Nordeste ganha marca unificada para competir no turismo internacional
Design Bridge and Partners cria identidade visual que une nove estados, mas projeto enfrenta desafio de superar estereótipos sem cair neles
O Nordeste brasileiro agora tem logo próprio. Embratur, Sebrae e Consórcio Nordeste lançaram, em Buenos Aires, uma marca unificada para os nove estados da região — iniciativa inédita que aposta na força do coletivo para atrair turistas e investidores estrangeiros. O trabalho foi desenvolvido pela Design Bridge and Partners, operação brasileira da agência global de branding da WPP.
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Por que importa: É tentativa de transformar fragmentação em vantagem competitiva. Nordeste compete internacionalmente com destinos consolidados como Caribe e México, mas historicamente cada estado promovia turismo de forma isolada. A marca unificada busca criar presença global mais forte — movimento que pode funcionar se não homogeneizar demais as diferenças regionais que são justamente o atrativo.
O conceito criativo se chama “Nordeste Além”, território que promete “um destino que é muito mais do que se espera, muito mais do que se vê e muito mais do que se sabe”, segundo Raquel Sztejnberg, diretora executiva de estratégia da agência. A narrativa tenta equilibrar clichês inevitáveis (praias, sol, hospitalidade) com profundidade cultural, um desafio clássico de regiões estereotipadas.
Nordeste registrou 51% de crescimento em voos internacionais — marca chega em momento estratégico de expansão aérea
Visualmente, a identidade usa pássaro estilizado como elemento central, simbolizando “liberdade e espírito leve” que convida a explorar além das praias. A estrela de nove pontas no centro representa união dos estados, e as cores são releitura das bandeiras regionais em “tonalidades solares”. A tipografia se inspira na espessura da xilogravura de cordel, conectando design contemporâneo com tradição artística local.
A marca é dinâmica: os grafismos se movimentam, criando diferentes composições. É tentativa de fugir da identidade estática que congela região em postal único. “Uma marca em movimento que propõe novas perspectivas e experiências de re-encantamento”, define Sztejnberg em jargão típico de apresentação de branding.
O timing não é acidental. Brasil e Argentina terão 16.377 voos em 2025, com mais de 3,2 milhões de assentos — recorde histórico que reflete expansão da malha aérea com países vizinhos (Uruguai, Colômbia, Bolívia, México, Paraguai, Peru e Costa Rica). Até agosto de 2025, Nordeste já tinha 300 mil chegadas internacionais, crescimento de 51,41% versus 2024.
Os principais emissores são Argentina (107.600 visitantes), Portugal (43.423), França (26.581) e Itália (22.075) — público que busca praias, cultura e custo menor que destinos europeus. “O Nordeste é uma das regiões mais encantadoras que o Brasil tem”, disse Marcelo Freixo, presidente da Embratur. “É muito necessário que se trabalhe enquanto um produto, enquanto uma região, para se tornar mais competitivo em termos internacionais.”
A frase resume o dilema: transformar diversidade cultural em “produto” sem perder autenticidade. Cada estado nordestino tem identidade forte. Bahia não é Pernambuco que não é Ceará. A marca precisa unificar sem uniformizar, criar guarda-chuva que abrigue diferenças sem apagá-las.

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