Robô doméstico da 1X custa R$ 100 mil mas precisa de humano para funcionar

Você pagaria R$ 100 mil por um robô doméstico que mal consegue fechar a lava-louças sem quase tombar? E que, para funcionar, precisa de um funcionário da empresa controlando ele remotamente de dentro da sua casa? Pois é exatamente isso que a 1X Technologies está vendendo com o Neo, anunciado esta semana como “o robô doméstico” que vai revolucionar sua vida.

Por que importa: A 1X está pedindo que você pague caro para ser cobaia de um produto inacabado, enquanto entrega dados da sua casa para treinar a IA deles. É um marco na robótica doméstica, sim — mas como exemplo perfeito de hype superando entrega. Tanto que o produto virou meme instantâneo na internet.

O CEO da 1X compara a performance atual do robô com “IA gerando imagens ruins” e pede que aceitem um produto ruim hoje para que melhore no futuro

O vídeo de lançamento do Neo acumulou mais de 50 milhões de visualizações no X em dois dias, com filmagens estilo Super 8 mostrando o robô como “mais um membro da família”. Mas bastou o Wall Street Journal publicar um teste prático para a narrativa desmoronar e a internet transformar o Neo em piada.

O robô tem 1,67m de altura, corpo coberto de tecido macio e promete fazer tarefas domésticas como lavar roupa, regar plantas e receber visitas. O problema? Ele não faz nada disso sozinho. Segundo a reportagem do WSJ que testou o robô, praticamente toda operação depende de teleoperação — um humano usando óculos de realidade virtual controla o robô remotamente, vendo tudo através das câmeras nos “olhos” dele.

E a performance é embaraçosa. O robô levou dois minutos para dobrar uma camisa, quase caiu ao fechar a lava-louças e teve dificuldade para abrir a geladeira. Tudo isso com um operador humano no controle. A internet não perdoou: memes mostrando o Neo segurando um travesseiro de forma ameaçadora explodiram, com legendas como “seu pagamento foi recusado pela terceira vez”. Outros posts brincavam com a ideia de deixar “um trabalhador de call center de terceiro mundo” espionar sua casa.

A 1X chama esses operadores remotos de “1X Experts” — funcionários da empresa fisicamente nos EUA que terão acesso visual completo à sua casa. Você pode bloquear certos cômodos ou desfocar rostos, mas todo o vídeo volta para a empresa como dados de treinamento. É esse o negócio: você paga US$ 20 mil (ou US$ 499/mês) para ser fonte de dados deles.

O CEO Bernt Børnich teve a audácia de dizer que isso é “mais seguro” que contratar uma faxineira de verdade. A lógica? Você não pode processar um robô como processaria uma pessoa. Ele também criou um termo para a péssima performance atual: “robotics slop” (algo como “porcaria robótica”), numa analogia com imagens de IA mal-feitas. A expectativa é que as pessoas aceitem um produto ruim agora até que ele melhore — para outros usuários, no futuro.

A real: Neo representa menos uma inovação e mais um modelo de negócio cínico. A 1X está vendendo acesso antecipado a um produto inacabado, transformando early adopters em trabalhadores não-remunerados de coleta de dados.

É tecnologia impressionante como engenharia? Sim. Faz sentido gastar R$ 100 mil para ter um estranho controlando um robô desajeitado dentro da sua casa enquanto a empresa coleta seus dados? Só se você realmente, realmente acredita em ser pioneiro. Ou se você tem dinheiro sobrando e privacidade não é prioridade.

As entregas começam em 2026. Até lá, a 1X espera que você esqueça que até robôs aspiradores fazem um trabalho melhor por 5% do preço (e não geram memes constrangedores).

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Publicador por
Carlos Merigo

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