Campofrío transforma polarização em doença no Natal
Narrado por mulher que transcreve brigas políticas há 50 anos, filme sugere que o ódio na internet está matando o prazer de viver
A Espanha está cansada de brigar e a Campofrío sabe disso. A marca de embutidos, famosa por seus comerciais de fim de ano que funcionam como um termômetro social do país, lançou “Polarizados”. O diagnóstico é claro: o ódio virou uma epidemia que nos impede de curtir a vida.
Por que importa: Enquanto a maioria das marcas foge de temas políticos como o diabo da cruz, a Campofrío mergulha na lama. A estratégia da agência This is Libre é transformar a tensão social em piada, posicionando o produto (comida) como o último refúgio de união em um mundo dividido.
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A voz que narra o comercial não é de uma atriz. É de Ana Rivero, taquígrafa do Congresso dos Deputados na Espanha há 50 anos.
- O contexto: Ela passou meio século transcrevendo, palavra por palavra, cada discussão, grito e debate político da história recente da Espanha.
- A mensagem: Se a pessoa que ouviu tudo diz que precisamos parar de brigar e começar a comer, talvez seja hora de escutar.
A peça imagina uma sociedade onde a polarização é um vírus real, com sintomas clínicos.
- O cenário: Uma “Unidade de Polarizados Intensivos” e consultas médicas para medir níveis de intolerância.
- Os sintomas: Pessoas que acordam com metas de insultar estranhos, bloqueiam primos no chat antes do café da manhã e têm pesadelos terríveis onde — pasmem — concordam com o cunhado.
“Acabo de ter um pesadelo em que concordava com meu cunhado”
O comercial atinge o pico na “Natal mais dividido da história”, onde uma avó é ameaçada com “posicione-se ou vá para a cadeia”. Ana Rivero corta o caos com a mensagem central: a polarização é contagiosa, mas o prazer de comer juntos é a cura. O slogan fecha com um trocadilho intraduzível: “Nos necesitamos como el comer” (Precisamos uns dos outros tanto quanto precisamos comer).
A real: É uma aula de casting. Usar Ana Rivero tira a marca do lugar de “empresa dando sermão” e coloca a mensagem na boca de uma testemunha ocular da história. A Campofrío consegue fazer o impossível: criticar a polarização sem parecer isentona, lembrando que, no fundo, todo mundo está exausto de ter razão o tempo todo.

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