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O que torna a vitória de “Parasita” no Oscar um marco para Hollywood?

Como a vitória do filme de Bong Joon-ho muda a perspectiva da maior premiação de cinema do mundo e simboliza uma abertura para a produção mundial (incluindo o Brasil)

por Matheus Fiore

O ano é 1954. O lendário Walt Disney sai da cerimônia do Oscar com quatro estatuetas, tornando-se o primeiro a conquistar tal feito na premiação. Um número impressionante, conquistado pelas vitórias de “Toot, Whistle, Plunk and Bloom” na categoria Melhor Animação em Curta-Metragem, “Bear Country” em Melhor Filme em Curta-Metragem, “The Alaskan Eskimo” como Melhor Documentário em Curta-Metragem e “O Drama do Deserto” em Melhor Documentário. Todos vencidos como produtor.

O ano é 2020. Exatos 66 anos após a conquista histórica de Walt Disney, o sul-coreano Bong Joon-ho se prepara para voltar para a Coréia do Sul após o evento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Los Angeles, levando em sua bagagem também quatro estatuetas do Oscar – incluindo Melhor Filme, Direção, Filme Internacional e Roteiro Original.

O cineasta sul-coreano registrou marcos diferentes no Oscar por diversos motivos. Além de repetir um feito que permaneceu imbatível por 66 anos, é também a mente por trás do primeiro filme em uma língua não-inglesa a levar a principal estatueta da noite. Bong quebra barreiras culturais e industriais que, pelo menos a curto e médio-prazo, pareciam ainda intransponíveis para o cinema sul-coreano – e convenhamos, para qualquer indústria que não a própria Hollywood.

O Oscar sempre foi tratado como a principal premiação do cinema mundial, mas, na prática, sempre foi direcionada à produção estadunidense. A porcentagem de filmes de outros países reconhecidos ainda é mínima, mas este cenário vem ano após ano mudando graças à quebra progressiva dessas barreiras. Em 2019, por exemplo, o “Roma” de Alfonso Cuarón fez história ao conquistar os prêmios de direção, filme estrangeiro e fotografia. Em outras edições dos anos 10, Alejandro González Iñárritu e Guillermo Del Toro formaram ao lado do próprio Cuarón o trio de cineastas mexicanos conhecidos como “os três amigos” e também enfileiraram estatuetas da Academia com “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, “O Regresso” e “A Forma da Água”.

É óbvia, porém, a diferença no caso de Bong e “Parasita”. O fato dos cineastas mexicanos colecionarem prêmios técnicos (incluindo a categoria dedicada a “filmes estrangeiros”) e não receberem o principal prêmio deixa nítida a ideia de que a Academia trata (ou pelo menos tratava) obras de outros países como algo diferente e talvez inferior, como se admitissem suas qualidades e ao fim dissessem “parabéns pelo seu trabalho, mas ainda preferimos os nossos”.

A vitória de “Parasita” abre assim um universo de possibilidades interessantes. Afinal, assim como boa parte do público brasileiro ainda possui uma certa resistência para abraçar obras europeias, asiáticas, africanas e até sul-americanas, o norte-americano também não é lá muito fã de qualquer coisa que exija uma legenda – algo que o próprio Bong frisou em seu discurso no Globo de Ouro. O cenário que se desenha é o da abertura de Hollywood não só para outras obras sul-coreanas, mas para todo o cinema mundial em geral.

Não seria difícil imaginar, por exemplo, que em outros tempos Park Chan-wook (de “Oldboy”) pudesse ter o sucesso que Bong alcançou na noite do último domingo (9), bem como daqui para frente cineastas como a francesa Claire Denis, o japonês Hirozaku Kore-eda e o alemão Christian Petzold também possam chegar a ter o mesmo reconhecimento na premiação, por mesclar um cinema com estética própria com uma linguagem que possa ser bem vista por um grande público. O mesmo vale para o brasileiro Kleber Mendonça Filho, que já possui um nome internacional – não apenas seus últimos três longa-metragens foram lançados em Cannes como “Bacurau” saiu do festival premiado – e tem feito um cinema que cada vez mais dialoga com os grandes públicos.

Pelo fato do gosto do público brasileiro ainda ser bastante influenciado pelo americano, é também uma possibilidade real que as barreiras culturais que nos fazem assistir apenas a filmes da indústria hollywoodiana seja aos poucos derrubada. A vitória de “Parasita” é um marco importante tanto para lembrar para o público dos EUA que existe cinema fora de seu país como para acenar a um futuro no qual o Oscar se torne algo que, há alguns anos, não imaginávamos: um prêmio que reconhece o cinema sob um recorte mais mundial.

Vale ressaltar que o sucesso de “Parasita” e de todo o atual cinema sul-coreano é fruto de um enorme investimento do governo do país em seu próprio cinema, que vai desde o apoio financeiro à proteção da produção nacional – lá, as salas não são amplamente dominadas pelo cinema americano. Se nos últimos anos era difícil imaginar que um filme asiático pudesse receber em uma mesma temporada o prêmio máximo do Festival de Cannes e do Oscar, duas premiações tão dispares em seus recortes, esta imagem se tornou real em 2019 e 2020.

É claro também que o fato de Bong ter um modelo de cinema bastante acessível comercialmente deve ser levado em conta – isso inclusive o permitiu criar trabalhar duas vezes em Hollywood, com o “Expresso do Amanhã” e “Okja” –, mas o saldo ainda permanece bastante positivo. Com tantos problemas de inclusão, incluindo a ausência histórica de mulheres na categoria de direção, o Oscar 2020 sinaliza uma Academia que, graças à entrada dos membros recém-aceitos, possa a partir de agora passar a ter um olhar mais abrangente e menos limitador para o cinema.

Com isso, todos só tem a ganhar. O único risco, claro, é as pessoas descobrirem a quantidade de excelentes filmes que existem fora dos Estados Unidos e o cinema estadunidense ficar um bom tempo sem levar o prêmio principal de sua própria festa.

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