Transcrição: Mamilos 79 - Futebol feminino, burkini e sucesso • B9

Transcrição: Mamilos 79 – Futebol feminino, burkini e sucesso

por Mamilos

Transcrição feita por: Andrey Almeida, Débora Martins, Bruna Azevedo, Abayomi Mandela, Ana Cecília, Alan Bastos, Fernanda Cappellosso, Luisa Ambrosio

Locutores: Cris, Ju, Caio, Fernando Duarte e Marco Tulio

Início da transcrição: Esse podcast é apresentado por B9.com.br

Cris: Mamileiros e mamiletes, olha o Mamilos 79 chegando. Mais uma semana aqui com vocês, para conversar sobre as notícias que bombaram nas timelines desse grande Brasil.
Eu sou a Cris Bartis e essa é a gaúcha paulista mais poderosa da galáxia com voz de Darth Vader.

Ju: Ju Wallauer

Cris: Vêm que o papo tá lindo e tá reflexivo.

Ju: E agora tem canal com o som do Mamilos no Spotify!
Pois é, tudo de delicioso que o Caio escolhe para tocar aqui, você pode escutar lá. Geral seguindo e dando o play agora! O link está no post do site do B9.
Caio, o que você está achando de tudo isso e o que a gente vai ouvir essa semana?

Caio: Olá personas, Corraini aqui novamente para trazer para vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana. Lembrando sempre, que se você quiser colaborar com o conteúdo musical desse programa, pode nos recomendar bandas ou artistas independentes pelo e-mail: [email protected].
Lembrando que facilita muito a minha vida, se vocês enviarem links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele, para utilizar no episódio. E novamente aqui, mandando um grande abraço para o MC e Guilherme Yano, pelo “corre” que eles fizeram, de incluir uma playlist do som do mamilos lá no Spotify. O link está no post, então vão e divirta-se.
Nessa edição nós iremos ouvir o Graveola, uma banda de Belo Horizonte que tem um som maravilhoso, muito inspirada em Novos Baianos e Tom Zé. Então, fique aí com Graveola, no Som do Mamilos.

[ sobe trilha ]

[desce trilha ]

Cris: Um beijo para o Nicolas que passou no vestibular de Letras. Parabéns, abraça essa jornada dupla que a gente está junto.

Ju: Pro Caio Gomes, sim a gente está falando com você!

Cris: Você que está aí longe…

Cris: Pro Ariel que está se sentindo um derrotado, levanta menino!

Ju: Pro Veno, que a gente acabou de descobrir que escuta o Mamilos, que a Mauá nos contou. Beijos!

Cris: Bueno, saudade hein?!

Cris: Um beijo grande para Viçosa, a terra do doce de leite.

Ju: Um beijo pro Lucas, que disse ser irmão da Dani, que é professora da Nina.

Cris: E é aquilo né, fale com o Mamilos. Fale com o Mamilos em qualquer dos nossos canais, estamos aqui cheio de ouvidos. Converse com a gente pelo Facebook, Twitter, tem a nossa página no B9, ali onde rola comentários e a galera interage bastante sobre os assuntos. E também no email: [email protected].

Ju: E a gente tem uma equipe cheirosa, na edição e no Som do Mamilos tem o Caio Corraini, a voz que vocês mais gostam. Nas redes sociais tem a MC e o Guilherme Yano, que estão aprontando poucas e boas.

Cris: Abalando…

Ju: No apoio a pauta a Tati Araújo e na transcrição do programas a Lu Machado.
Se você quer ajudar manda um e-mail para a gente, e a gente encaminha para uma dessas equipes.

Cris: Vamos falar um pouquinho do merchand, O Mundo Por Elas.
No dia 19 de setembro o grupo de planejamento vai reunir cinco mulheres poderosas que estão liderando transformações poderosas em comunicação, marketing e inovação. São quatro palestras, um debate e muito para aprender. Com Bárbara Soalheiro, fundadora do Mesa&Cadeira; Daniela Cachich,VP de markenting da Heineken; Gabriela Soares, VP de planejamento da MullenLowe; Maira Liguori, fundadora do Think Olga / Thing Eva e Renata D’Ávila, CSO da Lew’Lara\TBWA.
Corre e faz logo sua inscrição, porque as vagas são limitadas, mamileiros tem super desconto! É só você entrar lá e usar o seguinte código: mamilosgp
Link: https://www.sympla.com.br/evento-do-gp-o-mundo-por-elas__84074

Ju: 25% de desconto, corre!

Cris: Não é pequeno.

Ju: E tem um merchand muito legal para fazer, que é do Maron, no SXSW. Não satisfeito em cometer “maronada” em português, o Alexandre Maron, braincaster se inscreveu para fazer um painel na SXSW e ele precisa do seu voto, para levar as “maronadas” para um próximo nível.
A proposta é discutir cultura pop e repartir com o público, o que ele aprendeu na jornada de 2 anos do Zing. Enquanto você nos esculta, vai lá, abre uma aba no seu navegador e digite: bit.ly/alenosxsw.

Cris: Aproveita também e escuta Braincast e o Zing. Para conhecer mais o Maron, mais os rapazes e essas conversas brilhantes que eles colocam na mesa.
Vamos então, para o Fala Que Eu Te Esculto.

Cris: O Fala Que Eu Te Escuto, começa com um e-mail do César.
“Não há nenhum impedimento para criar uma lei contra a violência doméstica, ao invés de contra a violência doméstica contra as mulheres. Foi necessário anos de vigor da Lei e da jurisprudência, para que nossas Cortes começassem a usar a configuração de Maria da Penha em agressão contra homens. Se há mais mulheres vítimas do que homens (questionável mas a resposta é irrelevante para esse ponto), elas são naturalmente mais protegidas pela lei neutra. Literalmente não tem porque criar uma discriminação de gênero e de vítima.
Criar uma lei, por um gênero, por causa de um problema que atinge ambos, é francamente ridículo. Crie uma que alcance todos, sem precisar explicar e justificar seu uso. Um bom exemplo é a Lei que configura tortura o crime de agressão, motivado por gênero. Essa não distingue homem e mulher, apenas se houver violência motivada por gênero. Leis igualitárias, campanhas conscientização relevantes, pesquisas sobre a causa desse problema. Sinto que há uma grave deficiência em todos esses campos dos órgãos responsáveis. A Maria da Penha tem uma ótima intenção, mas erra em conceito e execução.
Quanto ao mais, continuem com um bom trabalho, toda semana eu me animo quando lançam um novo episódio.

Ju: Eu vou ler o post da Juliana Maia, ela respondeu no site do B9.
“Sou advogada e gostaria de contribuir para a discussão. A Lei Maria da Penha abrange violência praticada em três contextos: a esfera doméstica, as relações familiares e as relações íntimas de afeto.
Na esfera doméstica diz respeito a violência contra a mulher praticada dentro de casa, ainda que o agressor ou agressora, esteja ali temporariamente e não tenha relação familiar ou afetiva com a mulher agredida. Já a relação familiar é relação íntima de afeto, que diz respeito ao vínculo familiar ou afetivo entre a mulher agredida e o agressor, ou agressora. Independente do local em que se deu a violência, sendo que no caso da violência afetiva, não importa se foi no relacionamento atual ou passado. Importante ressaltar que a Lei Maria da Penha não cria nenhum crime novo. Todas as hipóteses violência mencionadas pela lei correspondem a infrações que já existem na Legislação e não somente no Código Penal. Por exemplo, a violência física pode dar pelo crimes de violência corporal ou homicídio. A violência psicológica pode se dar pelo crime de ameaça. A violência sexual corresponde aos crimes contra a dignidade sexual como o estupro. A violência moral se refere aos crimes contra a honra, como injúria, calúnia ou difamação. E a violência patrimonial pode se dar pelo crime de dano.
Por isso, nos casos em que uma mulher pratica qualquer uma dessas condutas contra um homem, está configurado crime e essa mulher agressora poderá responder penalmente. Porém, nos casos em que as infrações são praticadas no contexto de violência doméstica ou familiar contra a mulher, existe um componente histórico, social e cultural que é o machismo e que permite um tratamento diferenciado perante a lei, uma desigualdade formal, justamente para buscar uma igualdade material no plano da vida. Por isso, apesar de não criar crimes novos, o que a Lei faz é dar um tratamento mais rigoroso aos crimes cometidos no contexto de violência doméstica ou familiar contra a mulher, em termos de hipótese de prisão, procedimento, etc.”

Cris: O Lucas Souto Durant disse: “Só uma pequena correção. A convidada disse que se caso “um namorado quebrasse o CD que você gosta, você pode denunciar pois isso é violência contra seu patrimônio..”
Na verdade, creio eu não ser possível levar um processo ao final por causa de um CD. No direito temos um princípio da Insignificância que diz que o ato criminoso praticado tem que lesionar de fato para que ele seja levado em juízo, coisas pequenas são desconsideradas, um CD comum a mais ou a menos, não altera muito o seu patrimônio como todo. Estamos falando de um processo muito sério que custa bastante tempo e dinheiro.
Por outro lado, não aplicamos o princípio da insignificância quando se trata de lesões físicas (na lei Maria da Penha). Isso é uma inovação absurdamente boa no nosso Código. Se a mulher apanhou e só possui lesões leves (aquelas não muito sérias, que não deixam marcas profundas na pele) ela pode sim abrir um processo com a Lei da Maria da Penha. Qualquer tipo de agressão física será suficiente para instaurar o processo.
…”

Ju: Vou ler o e-mail do Ariel, sobre o outro tema que a gente falou:
“Por uma grande coincidência da vida, eis que escuto o Mamilos 78 justamente hoje que estou me sentindo o fracasso em pessoa. Chegando ao final do episódio com aquele nó na garganta. Então, por quê não contar um pouquinho da minha história para vocês, né?!
Saí da vida de agência no começo desse ano, para trabalhar com algo que eu realmente amo que é a música. Larguei tudo, bem na loucura e me associei a uma amiga e uma produtora cultural. Somos dois sonhadores, começamos com lugares inigualáveis e deu vontade de crescer e botar mil ideias em prática. Mas por ene motivos, diferença de objetivos e uma certa falta de planejamento, simplesmente não demos certo no rolê. E o que estava lindo se tornou um mar de decepções. Brigamos, nos acertamos, brigamos de novo, nos acertamos de novo e acabou. Caí de cara na vida, o tesão que eu tinha se esvaiu e passei por alguns dos piores estresses da minha carreira. Resumindo, vou seguir o meu caminho e ela o dela. Já tenho novos planos mas está doloroso continuar, confesso. Cá estou hoje entre suor e lágrimas, pobre, fudido, desesperado e perdido. Abraçado a tristeza e trabalhando feito um condenado em todo e qualquer freela que consigo me enfiar. Lá no fundo da mente aquela voz ecoa: ‘Você é um fracasso, quase trinta anos na cara e tendo que pedir grana para o pai e para a mãe, que vergonha’. E o medo de continuar tentando sem nunca chegar aonde quero, vai batendo na porta. Pois é, enfim… A minha história até aqui, com certeza não é nada de mais, comparado com os sacrifícios que outras pessoas já fizeram nesse mundão afora. Mas vale o desabafo e a certeza que já aprendi muito nessa breve aventura profissional. Aconteça o que acontecer daqui para frente, quando passar essa tormenta, tenho certeza que vou olhar para trás e agradecer. Obrigado, mais uma vez, por ser o meu raio de sol num dia nublado”.

(Bloco 2) 11’ – 20’59”
Cris:A Lorena também gostou desse tema e resolveu comentar: “Estou a morar fora do país, em Portugal, e nos últimos tempos passei por provas de resistência e força emocional e percebi triste e desacreditada no meu potencial e ainda estou no meu momento de luto, mas aprendi verdadeiramente a respeitá-lo como uma forma de crescimento pessoal e valorização das minhas emoções. Ainda não estou curada, mas o que está mudando, acredito é a maneira de enxergar o problema e solucioná-lo. O que vocês falaram me ajudou muito sobre essa questão. Obrigada mesmo, amor.
[ sobe trilha ]

[ desce trilha ]
Cris: Vamos começar o Trending Topics? E pra isso apresentando a galerinha que vai fazer parte da mesa. Quem tá aqui hoje? Tem muitos rapazes nessa mesa hoje, vamo começar com quem é mais novo de casa? Rapazes de barba, né?[risos] Oi Fê, boa noite.
Fe: Boa noite pessoal, estou eu aqui de novo, meu nome é Fernando Duarte, sou psiquiatra e trabalho em capse, nasce e tamos ai pra contribuir com os mamilos.

Ju:E ele gravou o programa de depressão.
Fe:É, gravei.

Ju:Nosso programa, maaiiss escutado.
Cris:E do outro lado do ringue…
Marco Túlio:Oi gente, boa noite, aqui é o Marco Túlio da Escola de Dados, jornalista, programador, muito bom tá aqui de novo.
Cris: E forrozeiro…
Ju:Criador da playlist “Forrozeira chamegada” no Spotify. Procurem saber…
Cris: Procurem dançar. Vamo então pro giro de notícias?
Ju:O primeiro é que a Turquia sofreu o pior atentado do ano. Um carro bomba explodiu em um casamento na cidade de Gaziantep, na Turquia, matando 54 pessoas e ferindo outras dezenas. O presidente Erdoğan responsabilizou o Estado Islâmico pelo atentado e afirmou que uma criança de 12 a 14 anos foi o responsável. Pelo menos 22 das vítimas eram menores de 14 anos. Foi o ataque com o maior número de mortos do ano no país. A gente já conversou bastante sobre isso, sobre que atentados recebem a nossa atenção e que atentados passam completamente invisíveis, que vidas importam e que vidas não importam, então vale a pena entrar no radar.
Cris:Número 2: candidatos do PSOL à prefeitura do Rio e São Paulo, são barrados em debate. Com a aprovação da Lei 13.165, as emissoras não são obrigadas a convidar candidatos de partidos que não tem mais de 9 deputados na câmara, se decidirem convidar é necessário que ⅔ dos que possuem essa representatividade concordem. Antes, para participar do debate bastava que o partido do candidato tivesse ao menos um deputado. Com isso Marcelo Freixo e Luiza Erundina não participaram dos debates realizados na TV Bandeirantes, porque quem estava lá e possuía a representatividade não concordou com a participação de ambos. O que aconteceu? É que eles acabaram promovendo debates paralelos, ambos fizeram uma manifestação, estavam na porta da emissora e de lá respondiam as questões que eram colocadas dentro do debate. É uma situação nova, é uma lei que eu acho que passou despercebida, ninguém deu muita atenção o quanto ela era importante e agora as pessoas estão falando de falta de democracia e tudo mais. Então, eu acho que é um exercício de ficar mais atento as leis que são aprovadas, que tão em pauta, porque passa coisa importante e a gente não se dá conta e depois percebe. Então eu acho que é um negócio pra ficar de olho.
[Bipe de entrada do Caio na edição]
Caio:Gente, só introduzindo uma atualização sobre esse caso aqui. O supremo decidiu ontem que caberá às emissoras de TV incluir ou não, nos debates candidatos a prefeito de partidos que têm representação de menos de 10 deputados na câmara.
[Bipe finalizando a participação do Caio]

Ju: E vamo falar das Paralímpiadas. Domingo os Jogos Olímpicos do Rio terminaram e a gente que pegou o gosto pela coisa ficou na sofrência. Como vai ser a vida sem o mascote funkeiro, Senhor? Pensando nessa angústia existencial o Mamilos tem um convite muito especial para fazer. Não pare agora, continue acompanhando as Paralímpiadas, todos os exemplos de superação e de celebrar o espírito humano que os jogos já trazem elevados a décima potência por atletas inacreditáveis. E o Brasil vai super bem nesses jogos, então nosso convite é vamo apoiar, vamo prestigiar. O prefeito Eduardo Paes disse em entrevista que quase nenhum ingresso foi vendido. Eu conheço muita gente que se arrependeu de não ter ido atrás de ingresso para as Olimpíadas depois que se apaixonou por essa edição moleque. Então o recado é: Ainda dá tempo, participe! Quem puder ir pro Rio, vale a pena. A gente, eu e o Merigo quando a gente foi, a gente não tinha grana pra avião, a gente não tinha grana pra hospedagem, a gente pegou o ônibus numa noite e voltou na outra, foi um puta perrengue e valeu muito a pena, então vá, vale a pena. Quem não puder ir acompanhe, comente, torçam. O perfil Rio 2016 postou um vídeo de apoio as Paralímpiadas com o apelo: “Não dá pra explicar, tem que ir!”. Mostrando o desempenho dos atletas que foram treinar com pessoas normais e ai obvio,né? Primeira reação: preconceito e depois o espanto com o que eles são capazes de fazer. Os ingressos custam a partir de 10 reais para você conhecer o espaço, o parque, pra você assistir, pra você apoiar, quem tem meia paga 5 reais e ainda pode parcelar. Então vá, leve amigo, leve família, vai ser uma festa inesquecível.
Cris:A gente volta a falar de Paralimpíada um pouco mais pra frente pra voltar ai, um pouco, igual a gente fez com a Olimpíada, né? Ao passo que for acontecendo a gente vai conversando um pouco mais sobre o assunto.
Ju:É agora o recado é: compre seu ingresso. Vá. Prestigie.
Cris:Vamos começar, então, o Trending Topics? Pra valer agora. O tema número 1 é: “Cúpula da CBF discute a extinção da seleção permanente de futebol feminino”. Qual é o fato? O Globo Esporte, ele publicou uma matéria que provocou uma polêmica essa semana, alegando que os dirigentes da CBF estariam questionando o modelo de patrocínio da seleção feminina de futebol em função do projeto não ter rendido medalhas ao Brasil, segundo os dirigentes apesar dos esforços o futebol feminino “não pega” entre aspas no país. Contrariando essa afirmação o futebol feminino foi o tema mais buscado no Google na semana passada. E ai? O que, que realmente tá pegando nessa discussão?
Marco Túlio:Uai gente, acho que tá bem claro assim, se a gente for olhar, é muito fácil pro pessoal da CBF dizer isso porque o quadro executivo da CBF é todo formado por homens, né? Então, e historicamente o futebol no Brasil é praticado por homens, então associar o, assim, virtual fracasso do futebol brasileiro feminino, visto pelo ponto de vista de pessoas que tão em posição de tomada de decisão e são homens, eu acho que a discussão começa por ai, eu queria muito ver a CBF ter esse tipo de discurso se pelo menos metade do quadro executivo da CBF fosse formado por mulheres.

Fe: E acho que é uma decisão econômica, não é? Tipo, não tá dando dinheiro, que se dane!

Ju:É, mas engraçado, porque assim, primeiro é interessante pensar que não é falta de dinheiro uma vez que os jogadores da seleção masculina ganharam 500 mil de luva, não sei como é que chama, de premiação, de bonificação pela medalha de ouro. Considerando que o COB oferecia 35 mil pra esportes individuais e 17,5 para esportes coletivos, ou seja, se eles fossem qualquer outro esporte, os jogadores por terem ganhado uma medalha, ganhariam 17 mil, eles ganharam 500 mil. Então, dinheiro não é problema. Agora a questão é, tudo bem, mas dinheiro é uma questão de prioridade.
Marco Túlio: [interrompe] Dinheiro pro masculino, né?
Ju:Eu não priorizo isso. É! Não, não, o que eu quero dizer assim: no caixa tem dinheiro. Se eu não quero gastar com isso e quero gastar com outra coisa, é outra discussão, entendeu? Dinheiro tem, eu não quero gastar com isso, eu não acho isso importante.
Marco Túlio:Eu não sei, dizer se o dinheiro…
Fe: Mas, na verdade a brincadeira é ganhar mais dinheiro, eu, no caso beleza, eles pagaram esse bônus todo pros jogadores de futebol, porque futebol deu muito dinheiro pra eles.

Cris:É…
Ju:Então, mas ai, ai a discussão: pra que, que serve a CBF?
Marco Túlio:Mas eu acho que aí…
Ju:Tipo, qual é a função social, tipo, qual é, sabe aquela missão da empresa? A missão da CBF é promover o futebol e aí uma das bandeiras da FIFA é desenvolver o futebol feminino, é tipo missão, pra que, que você tá aqui.
Fe: Eu fico com a sensação de que a missão da empresa é dar mais valor pras ações daquela empresa.

Cris: Eu fico me questionando muitos, até que ponto, a gente discute muito uma questão de gênero, da escolha com base no gênero, mas eu tento olhar um pouco na escolha com base no business: é uma empresa, essa empresa tem que dar dinheiro, ela lançou um produto, esse produto não está respondendo como ela esperava, ou ela injeta mais dinheiro pra tentar vender o produto, ou ela desliga o produto do portfólio dela.
Marco Túlio:Cris, peraí…
Ju:Mas é por isso que eu tava falando que é uma questão de estratégia, de qual é o objetivo da empresa. Então assim, se o objetivo é difundir o futebol, você pode difundir o futebol independente de isso ser rentável ou não, porque você está cumprindo a sua função, a função de existir daquela empresa, porque primeiro que não é uma empresa…
Marco Túlio: Exatamente, é uma confederação gente…Perai, né?
Ju:E segundo que assim você tá fazendo um investimento para dobrar o seu público, então é pra ganhar muito mais dinheiro, mas você vai ter que colocar capital nisso, então assim a gente tem assim muitas empresas que são deficitárias por 10 anos, hidrelétrica por exemplo, e ok! Por que tem um objetivo, tem um plano de negócio que em x anos isso vai retornar.
Marco Túlio:Mas Ju, o que eu não sei, é se esses contratos que dão dinheiro, esses contratos de patrocínio e tal, que dão dinheiro para a CBF, se eles estão atrelados a uma categoria ou outra. Não sei se é o caso, de por exemplo, eles darem tanto dinheiro pro futebol masculino, porque isso tá no contrato, Ju: sim…se isso tá de certo modo no contrato de patrocínio.
< strong>Cris: Então…Que eles não podem ter a decisão de falar assim, olha a gente vai separar parte dessa grana pro futebol feminino, por exemplo, eu não acho que é não-restrito dessa forma.
Cris:O que, que eu entendo quando eu vejo isso acontecendo, se tem dois produtos, o futebol masculino é o mercado já estabelecido, é um mercado que vende muito ingresso, que vende muita camisa, que a televisão compra o direito dos jogos e as pessoas assistem, e as pessoas vão ao estádio, é um produto totalmente amadurecido. O futebol feminino a própria torcida não responde ainda, cê não vê a galera se matando pra comprar camisa, querendo ir em todos os jogos, a TV interessada em comprar, porque a TV trabalha com base na expectativa da audiência, então o que, que eu tô…
(Bloco 3) 21’ – 30’59”
Ju: Imagina a Unilever pensando isso quando ela não conseguia vender sabonete, se ela falasse: Ah gente, a galera não compra então não vou vender. Eles tiveram que formar o consumidor.

Cris: Então, deixa eu só terminar meu raciocínio. Pra que um produto ganhe o mesmo grau de amadurecimento de outro tem que ter muito investimento, muito investimento. A pergunta é o quanto eles tão dispostos a investir, não é porque ele não tá respondendo que ele não vá responder nunca, mas hoje ele não responde. Então, antes de pensar se é uma questão de gênero, de machismo porque é o futebol feminino e tudo mais, acho que tem que ver isso. Precisa ter um investimento de mídia, de interesse de público, de uma série de coisas pra que isso aqui cresce e amadureça.

Marco Túlio: Mas Cris, como que essa vontade vai surgir da boa fé dos dirigentes da CBF, dos cartolas que tão lá? Eu acho que começa sim na questão de gênero quando você troca o quadro dos executivos que tão lá. Isso é uma coisa. E a outra é que a Marta tá certa, ela falou lá: Olha a gente precisa da ajuda de vocês! Não só tem que acontecer de um lado, que é o lado de quem tem o dinheiro, de quem tem o poder de tomar decisões que são estruturais, mas a gente também tem que fazer a nossa parte, sabe. A Marta falou: A gente precisa da ajuda de vocês.

Cris: Exato! Porque…

Marco Túlio: O futebol feminino precisa da ajuda de vocês.

Cris: Porque senão…

Marco Túlio: Porque senão o futebol feminino vai morrer.

Cris: Exato! Porque se o público não responde…

Marco Túlio: Exatamente!

Cris: A empresa não quer investir no produto. Então eu acho que tem que… eu não tô tirando a responsabilidade e nem essa característica comum nas grandes empresas de não ter representatividade ali discutindo esse tema e por isso não dar importância pra ele. Mas por outro lado o público também tem que pedir por isso.

Marco Túlio: Eu tô falando isso sem deixar de reconhecer de que não é só o público, não é só você, porque eles têm os direitos do esporte, eles têm os canais de negociação, eles têm os patrocinadores, então eles tem a faca e o queijo na mão, então sem deixar de reconhecer isso, mas a gente precisa sim, a torcida precisa prestigiar o futebol feminino desde a escolinha lá, de você ter políticas públicas que possam fazer isso, pra você poder incentivar e criar esses espaços onde as meninas possam praticar o futebol sem serem tachadas como homens, né. Não sei como que tá hoje, mas na minha época, falando como um velho aqui, na minha época menina que jogava futebol é meio tida como maria-homem, alguma coisa assim. Tinha um preconceito já nas escolas. Então você tem uma imagem associada também que é ruim, que a gente precisa quebrar isso, que não tem nada a ver.

Cris: Não, se acabar a seleção permanente, acaba tudo. Porque aí elas não vão ficar em movimento e aí não tem novas formações.

Ju: É, então, isso que eu queria falar, o que eu acho em relação a essas críticas. Não faz sentido pra mim em termos de negócio, porque a gente está falando de você conquistar um público consumidor muito maior. Então assim, óbvio que você vai ter que ter incentivo, é óbvio que você vai ter que ter investimento. Então isso não faz sentido em termos de negócio pra mim. Em termos de confederação faz menos sentido ainda, porque existe uma coisa acima da CBF que é a FIFA e a FIFA já determinou uma plataforma que é: precisamos desenvolver porque estrategicamente interessa, porque o nosso papel é desenvolver isso. Então como confederação não faz sentido. O que eu acho que a discussão mais interessante é se o melhor método de desenvolver o futebol feminino é ter uma seleção permanente ou se é através de campeonatos. Porque tem gente que faz essa crítica, que aí eu acho que é uma crítica mais inteligente. [Que é assim ó =

Cris: [O método, né?

Ju: = Eu não acho que é assim que a gente deveria fazer, eu acho que a seleção meramente tira essas pessoas de onde elas deveriam estar no campeonato, a gente deveria fomentar os campeonatos e ter campeonatos fortes pra gerar jogadoras fortes e aí em cima disso você consegue fazer uma seleção. Então isso é uma crítica que eu acho interessante.

Marco Túlio: Ju, cê acha que isso é um problema de ou? ou uma coisa ou outra? eu vejo a seleção permanente como uma política, entre aspas, afirmativa de transição necessária nesse período, mas ela não exclui a campanha que deve ser feita ou a iniciativa que deve acontecer do outro lado pra criação de campeonatos também. Então não é assim ou a gente faz a seleção permanente ou a gente faz campeonatos e ou acontece uma coisa ou outra. Eu vejo que a seleção permanente ela é necessária sim e ela precisa tá lá, porque se não tiver, se não tem campeonatos que fortalecem essa seleção, então você precisa desse espaço, dessa janela.

Cris: Não tem novas entrantes, né?

Marco Túlio: E você precisa ao mesmo tempo trabalhar na base pra que esses campeonatos aconteçam até que a seleção permanente não seja necessária mais. Então essas coisas trabalham juntas, não é olhando um lado ou outro.

Ju: É, nesse caso eu fiz a glória, não fui capaz de opinar, não sei se tecnicamente é melhor uma coisa ou a outra porque assim, aí eu entendo que as vezes é uma questão de escolha, de recurso, você tem um recurso x, ou você vai fazer uma coisa ou você vai fazer outra, isso eu já não sei falar, entendeu? O que eu acho é que essa discussão pelo menos rende alguma coisa, sabe? Se você tiver dez técnicos, você vai ter 10 soluções diferente pro mesmo tema e tudo isso eu acho que é discutível, entendeu?

Cris: E acho que a gente já tá maduro suficiente pra ter mulheres entrando na parte de dirigentes e de treinadoras, já tem futebol feminino há quase 16 anos se não me engano, então assim, já tem uma safra que já tá se aposentando do campo e se essas mulheres conseguem ganhar esse espaço de dirigente de formadoras de clube, tem uma possibilidade maior de isso ganhar robustez administrativa.

Marco Túlio: O problema é que a CBF… (risos)

Ju: Nem homem consegue entrar né, é uma panelinha.

Marco Túlio: É uma maçã podre. É um grupinho fechado.

Fe: É a galera que tá lá desde sempre.

Cris: Mas eu acho que até pros próprios clubes, sabe? Pra técnica de clube, pra dirigente de elenco de clube, porque já formaram. Antes não tinha, mas agora já formou uma safra inteira.

Marco Túlio: Eu não tô falando isso nem pra minar o que cê tá colocando não, Cris, o que cê tá colocando é bem pertinente mesmo, mas pra falar assim ó: A FIFA tá dando o exemplo, ela tá dando exemplo no papel de que é uma diretiva fortalecer o futebol feminino.

Cris: E que a FIFA já viu que isso cola, olha o futebol feminino nos Estados Unidos, na Suíça.

Marco Túlio: E tá dando exemplo na prática também porque o presidente eleito que ainda é o presidente, mas ele nomeou a secretária geral mulher e é a primeira vez que isso acontece, então tá tendo exemplo no alto nível e a CBF se quiser alcançar tem que dar sinalizações de que ela tá se atualizando também. E o que é o… [posicionamento=

Cris: [É muito velho né, isso.

Marco Túlio: = É, qual que vai ser? vai ser sempre essas mesmas figuras marcadas que tão aí sempre no comando da CBF, a gente não vai ter essa sinalização de que as mulheres são bem vindas pra discutir o futebol no Brasil? porque se porque se a confederação brasileira de futebol que é o órgão máximo não fizer esse convite e não criar esses espaços, então isso vai acontecer… nunca, né? Porquê quem que vai se sentir compelido a fazer futebol feminino sério no Brasil se a Confederação Brasileira de Futebol não cria esse espaço pra acontecer? Nunca.

Ju: Vale a pena fazer o serviço de que a Copa Brasileira de Futebol Feminino começa hoje, que a gente tá gravando quarta-feira ela tem 32 times, é a segunda maior competição da modalidade no país e além da mais antiga. O que tá em jogo nessa copa é uma vaga na Libertadores de 2017. Então vai assistir pra incentivar porque os ingressos são mais baratos, tem time grande, tem Corinthians e Flamengo, por exemplo. Tem bastante qualidade, tem bastante gol, vai conhecer as novas jogadoras da seleção, vai mostrar que vale a pena investir no futebol feminino.

Cris: E ó, se for assistir, se veio pra assistir tem que torcer direito hein. Nada das típicas frases: É ruim hein assistir futebol feminino porque não sabe cruzar; Porque olha lá: não pula. A gente… não, foi muito engraçado que eu e a Juliana ouvimos isso essa semana numa mesa e o cara soltou isso pra nós duas, foi muito engraçado a nossa cara de tipo: 2016! Sabe, não façam o Milton Neves.

Ju: Não, eu não tô assistindo futebol suficiente pra poder fazer essa metáfora, há pouquíssimo tempo atrás eu poderia fazer essa metáfora com louvor, mas assim dá vontade de falar assim: Não, tá certo é o Pato que cruza pra caramba né! Imagina eu falando pro Pato: Olha aí ó, “homi” fazendo “homice”, olha esse passe aí! Se fosse mulher não errava esse passe! Gente, não faz sentido, então apenas pare de passar vergonha amigão.

Cris: Então conheça mais sobre a copa no site cbf.com.br/copadobrasildefutebolfeminino vê aí se vai ter jogo na sua cidade, bora lá.

[Sobe a trilha]

[Desce a trilha]

(Bloco 4) 31’ – 40’59”
Ju: Vamos para o Trending Topics 2. Outra região da Riviera Francesa proíbe Burkini nas praias. Isso entrou mais ou menos no nosso radar porque a gente começou a discutir isso nas Olimpíadas, né? O que que aconteceu: Mais uma localidade na Riviera Francesa, Villeneuve Loubet, anunciou nesse sábado que proibirá em suas praias o uso do Burkini, traje de banho islâmico, depois que Cannes emitiu uma ordem municipal no mesmo sentido. O motivo segundo o prefeito: Informaram que havia um casal em uma das nossas praias e que a esposa nadava totalmente vestida. Considero isso inaceitável, por razões de higiene, né? Nadar vestido é muito um problema de higiene… E porque em geral isso foi mal recebido. Já o prefeito de Cannes defendeu o banimento do Burkini porque, preste atenção: Respeito aos bons costumes e ao secularismo. Princípio fundador da República Francesa! Essa polêmica acontece no cenário em que o véu integral é proibido nos lugares públicos e o hijab, lenço que cobre o cabelo e o pescoço das mulheres, também não está permitido nas escolas ou para os funcionários da administração em seus lugares de trabalho. E aí? O que que se quer com uma lei dessa, Marco Túlio?

Marco Túlio: Ah, gente, tem que desempacotar esse assunto devagarinho assim, porque, parece bem óbvio assim, mas não é, né? É fácil cair num discurso mais ou menos radical do outro lado, né? Então acho que a gente tem que ter cuidado para a gente não fazer uma radicalização às avessas, assim né, na hora de tratar essa situação porque ela traz uma situação que é um retrato do que a gente tá vivendo hoje em vários lugares diferentes. E que é muito parecido com outros períodos que antecederam guerras, né? Então se a gente for olhar com cuidado assim, e porque que essas regiões específicas lá na França tão fazendo isso, que são consideradas regiões mais tradicionais, tem a ver mesmo com um sentimento, com uma retórica de proteção. Uma retórica de medo. Uma retórica de não saber o que que tá acontecendo. Uma retórica de raiva. Uma retórica de tentar proteger valores que uniram aquelas pessoas até ali. Eu tô dizendo isso tudo não pra justificar essa lei que ela é medonha! Não tô falando de forma alguma… Mas acho que a gente tentar se aproximar um pouco dessa situação de uma forma mais acolhedora, a gente enriquece o debate ao invés de esvaziar ele com uma frase tipo: “Ah, isso é ridículo! Completamente ridículo!”
Caio: A sensação que eu tenho é que as pessoas que estão criando essas leis lá na França, elas estão com medo! Eles olham pra essas Burkas, Burkinis e hijabs aí da vida e veem isso como um símbolo de pessoas que estão matando os seus familiares e os seus colegas. E eles estão morrendo de medo dessas pessoas. Eles querem que essas pessoas não estejam mais na França. Tipo, vai pra longe, por favor! Então, parece um grito desesperado, do tipo: “Meu, pelo amor de Deus, sai daqui! Eu quero ficar vivo! Eu quero que meu País fique bem! Eu quero que as pessoas que eu amo fiquem bem!” Eu só acho que eles estão errando muito no jeito de fazer isso, né?

Cris: É! Agora na Olimpíada a gente viu isso acontecendo de algumas maneiras, né? A começar pela primeira medalhista americana assumidamente islâmica que subiu no pódio vestida com os trajes típicos, né? E ela é americana, né? E ela subiu ali com a cabeça coberta e tudo conforme a fé dela professa e a gente olha para aquilo e tem um estranhamento. Igual quando a gente olha pro Burkini e tem um estranhamento e aí quando o Neymar coloca uma faixa “100%Jesus” a gente não tem um estranhamento. E ele tá colocando a fé dele na forma de se vestir da mesma forma que essas pessoas também estão fazendo. E da mesma forma que também o cristianismo também já foi o culpado por dezenas de massacres, né? E carrega nas costas aí uma dívida. Não sei se uma dívida, mas também muito derramamento de sangue. Num passado não tão distante. Mas só que a bola da vez da religião que promove isso ao redor do mundo são dos islâmicos. Então, é a bola da vez do que: O medo está neles, né?

Marco Túlio: E tem assim, Cris, esses caras que tão no poder, ou essas mulheres que estão no poder lá na França que tem a iniciativa de colocar, de passar essas leis pra frente e tal, eles tem um público. Eles tem o que dizer para essas pessoas que esperam que eles façam isso. Então, não é completamente surpreendente que regiões mais tradicionais como essa que acabou de acontecer, isso, que passem esse tipo de norma, ou esse tipo de lei, porque as pessoas que tão lá esperam isso, né?

Ju: É mas o que é legal eu acho, Marco Túlio, é que isso torna evidente uma associação que a gente raramente faz e que eu gosto bastante que o Jorge que é super liberal e eu acho ele super utópico é que um dos pontos que eu gosto muito de falar com ele e ele me mostrar essa relação, que é: A gente nunca relaciona a lei com violência. Porque a gente acha que é justamente o oposto. Que a lei é o jeito pacífico de resolver conflitos. E o lado de quem é liberal é justamente falar que não! Que a lei é força, né? A lei é resolver conflitos através da força. Porque, quando a gente vê uma lei dessa, por exemplo, no papel ela é uma ideia. Mas na prática são homens armados, do lado de uma mulher, obrigando ela a tirar uma roupa. Então assim, toda essa discussão que a gente tá tendo aqui ela fica no campo de ideias. A prática disso, a execução disso é: Na praia, uma mulher na areia, uma mãe de dois filhos, estava com a hijab dela, com o Burkini e uma túnica por cima. Três policiais chegam ao redor dela, conversam com ela, armados. E ela tem que retirar a vestimenta dela. Pra ficar aceitável pro ambiente em que ela tava. Então assim, uma das discussões que eu acho super interessantes e super pertinentes: Se a gente tá com medo, Fê, como você falou e que eu acho muito ok, como a gente resolver esse conflito? Quando a gente tenta resolver um conflito por força de lei, a gente tem que lembrar que a gente tá colocando uma arma na cabeça de uma pessoa que discorda da gente, para que ela não faça o que ela quer fazer. E isso é uma coisa que a gente raramente pensa sobre isso. Entendeu?

Caio: Sim, você trata a violência com mais violência. Minha vontade era de falar para esses franceses, que meu, eles tão errando muito grande! Porque assim, quando eles fazem isso, quando eles demonstram o medo ou a raiva que eles tão sentindo através desse tipo de lei, eles só tão gerando mais problema, sabe? Vai ter mais gente em algum lugar que tá com mais raiva da França agora e que vai querer se vingar da França.

Cris: Você sabe o que que eu acho mais bizarro na situação inteira? O fato de eu exigir que você retire a vestimenta não te faz menos muçulmano, só faz com que eu não veja a vestimenta que eu não quero ver. É apenas: Eu não quero ver isso! Não quer dizer que não exista.

Marco Túlio: É um colírio, né?

Ju: Qual é o limite que o Estado tem de entrar na sua vida e determinar, tipo, o Estado pode determinar que roupa você vai vestir, sacou? Então assim, aconteceu muito essa semana por conta desse caso específico das pessoas colocarem fotos comparativas da época do início do século, quando existiu um policiamento do tamanho da roupa que a mulher podia vestir que o maiô não podia ser menor do que tanto centímetros e tinha policial medindo com fita métrica o tamanho da vestimenta da mulher e comparando uma coisa com a outra, sabe? Tipo, em que momento, por que que a gente acha que, como é que você cede esse poder pro Estado? Porque hoje é para ele resolver o problema dos outros. São eles que são feios, chatos e bobos e não podem usar essa roupa, mas quando você fez isso, você deu ao Estado o poder de regular a sua roupa e isso serve para você também. Pau que bate em Francisco, bate em Chico. Entendeu? Tanto faz, entendeu? Pode isso? Você acha que é OK o Estado poder te dizer qual o tamanho do biquíni que você vai usar na areia, você tá louco!

Caio: E é muito bizarro essa coisa de: “Vou controlar o tamanho da roupa mesmo que a pessoa tá usando na praia” Porque, poxa, quer dizer que eu não posso ir de roupra pra praia? Não posso entrar no mar? Imagina quantos surfistas não entram no mar de roupa. De roupa inteira e manga comprida.

Ju: Teve muito meme com freira, sabe, entrando com batina, sabe, então agora os policiais vão pegar porque não pode, entendeu? É roupa religiosa na praia, não. Tem que ser biquini, freira.

Caio: Ou então a lei é só pela moda, né? Então vamos ter que colocar, não, se for nesse estilo pode, nesse estilo não pode, né? Os guardas vão ser esteticistas.

Marco Túlio: Mas assim, o que está acontecendo na França é muito sério. Eles já entraram num modo de emergência lá, há algum tempo. Tem muitas leis muito bizarras sendo passadas. E isso que você tá falando, Ju, entra nesse limiar assim, né? Do quanto que você delega de poder pro Estado em momentos críticos assim, que você fala assim: “Cara, vai resolve pra mim porque eu to com muito medo!” E aí o Estado vem e abusa desse poder criando coisas ridículas, coisas impensáveis em outras situações.

Ju: É a questão da Liberdade e Segurança, né? Quanto da sua liberdade você tá disposto a ceder em nome de uma falsa segurança.

Marco Túlio: Sim. E a França está exatamente nesse estágio. Em que eles estão aproveitando a situação pra passar um tanto de lei muito absurda que mexe com as liberdades individuais assim, muito grandes. E você tocou num ponto também que eu não sei nem se a gente consegue entrar nele aqui mas é a questão do pudor, né? Que a gente tem, inclusive no Brasil. É um conceito comum, assim, no Marco Legal de vários países. E o que que é o pudor, né? O que que define até que ponto a gente pode tirar uma roupa em público? A gente pode mostrar o nosso corpo? O que que é aceitável e o que que, a partir de qual ponto isso se torna ilegal. Isso se torna uma ofensa.

Cris: Tem uma… Você puxou esse tema e eu me lembrei de uma coisa muito interessante recentemente. Um transexual estava com o seio de fora. Ele foi preso por um policial por atentado ao pudor. Quando pega o RG, ele é um homem e homem pode andar sem camisa, então ele virou e falou assim: “Eu quero que você me prenda! Por que me prender é me reconhecer como mulher! Então me prende. Agora eu sou mulher! Me chama pelo meu nome então!” Não seu nome é de homem, a sua identidade é de homem. “Então você não pode me prender!” E aí entrou nesse dilema. Por que então assim, o homem pode andar sem camisa, mas a mulher não, mas eu sou um homem, mas você se parece uma mulher, isso são seios, mas eu sou um homem, e ai? Cadê o seu Deus agora?

Marco Tulio: E de onde vem isso né? A gente tem um direito positivo que é centrado na letra da lei e isso me parece mais uma coisa de uso e costume total, né? E de onde que veio esse costume, né, assim? Porque que a mulher não pode andar sem camisa, por exemplo. Para dizer uma coisa: Por que isso é considerado atentado ao pudor?

Cris: Nossa, não pode nem amamentar, quem dirá andar sem camisa.
Caio: E é engraçado que para essas mulheres, vai, islâmicas assim, elas, o cabelo delas é uma coisa completamente íntima. Assim, como se fosse a genitália delas, que elas só querem mostrar para o marido e quem sabe para outras mulheres, e olhe lá. E daí é uma exposição muito grande mostrar o cabelo assim.

Cris: Você ser obrigada a mostrar é a mesma coisa que para a gente seria obrigada a tirar a blusa.

Caio: A andar nu.

Marco Túlio: Imagina você visitar um país e ser obrigada a tirar a sua roupa, imagina? Contra a sua vontade. Você tá lá.

Ju: E não tem motivo pra fazer, sabe? Você entende? Uma coisa por exemplo, vamos lá. Você para entrar no banco tem que tirar o boné, porque é uma questão de segurança, por que você pode estar escondendo alguma coisa no boné, enfim. Não é o caso. Não é uma medida por segurança, sabe? Tipo, ah sei lá. Não pode usar manga comprida, então ninguém pode usar manga comprida nenhuma. É uma regra que é só para eles. É isso que escancara a islamofobia, né? Tem outro ponto que eu acho interessante a gente falar que é a discussão sobre a liberdade, né? Porque assim sem reduzir, a gente sabe que em muitos países a mulher não tem direito a voto, não pode dirigir, tem uma série de privações, tá. Mas também é complicado quando você tenta impor a sua visão sobre o que que ela, essa mulher deveria querer. Que ela deveria querer ser livre. Ela deveria querer, enfim. E o que trouxe essa discussão também foi o Burkini, agora nos jogos olímpicos, uma foto do jogo da seleção da Alemanha com o Egito que, as jogadoras da Alemanha estavam com um biquíni micro e uma das jogadoras sírias estava com o burkini, com o véu completo, lá. E aí a foto perguntava assim: O que era um choque? Qual das duas que era livre? E foi muito interessante ver que assim, a menina fala que ela sempre usou porque ela quis. Foi uma escolha dela. E até a olimpíada de 2012 as jogadoras de vôlei de praia eram obrigada a usar biquíni na parte de baixo e dizia quantos centímetros tinha que ter esse biquini. O que acontece foi que a federação Australiana reclamou justamente disso, que isso era sexualizar as mulheres. Que o interesse era deixar o esporte mais interessante para quem fosse assistir e que isso não tinha, essa regra do tamanho do biquíni, não tinha nada a ver com qualidade, com tecnologia, com prática, com melhorar a performance. E aí isso caiu. Mas o ponto é: Essas coisas que são muito óbvias para a gente, muito automática, você tem que olhar de novo. Você olha uma foto dessa, você fala: Olha uma mulher oprimida e olha uma mulher livre. Quando na verdade a mulher que estava de biquini era obrigada a ficar de biquíni até ontem. E a mulher de Burka estava usando Burka, naquele momento, nessa foto específica porque ela queria.

(Bloco 5) 41’ – 50’59”
Marco Túlio: Dá a impressão de que as duas coisas são os homens definindo, né?! Então… os homens definindo que a mulher tem que se vestir inteira, porque se apresentar mais do que isso é vexaminoso, e a outra tem que mostrar tudo mesmo, porque eu gosto de ver , é isso que vão lá …

Ju: É isso que vai dar audiência

Cris: Eu acho que até esse respeito pela fé e pelo o estilo de vida do outro, passa por isso, de não pressupor que a aquela pessoa é obrigada a passar por isso. Existem mulheres oprimidas em qualquer religião, não é só islâmica… qualquer religião… E existem mulheres que seguem a religião por desejo de seguir a religião, então… isso tem evangélico, tem judeu, tem islâmico, tem católico, tem em todos os lugares tem mulher oprimida e mulher que tá lá porque ela quer. Não dá para olhar pra todos e falar que todas são oprimidas, porque o costume dela é diferente do seu. Tem um monte de mulher que valoriza isso, que desejou isso, ela se converteu à religião.

Fe: Apesar de que aí Cris… vou ser obrigado a te dizer que é um costume construído em cima da opressão feminina, né?! Tudo bem que hoje pode tá desconectado e tal… e ela escolheu isso… mas fica claro que esse costume foi construído em cima de uma visão de que a mulher não pode se mostrar, né?! Ela tem mais limites que o homem, [e então =

Ju: [Que a mulher é privada e o homem é o domínio público

Fe: = É.. então tudo tem que .. e acho que tem que… é um jogo delicado entre o que é que é costume mesmo, e aquela mulher realmente pode ter nascido naquilo ali, ela pode não ter tido oportunidades para contestar aquilo ali, ela aceita aquilo ali como sendo algo dela e o outro lado como sendo um costume que foi criado em cima da opressão masculina, que é … pra mim é cristalino assim.

Cris: Eu concordo com o que você tá falando. O que eu discordo é partir do pressuposto que todas as mulheres estão ali porque são obrigadas a estar.

Ju: É infantilizar a mulher e tirar o poder de escolha dela. Isso também é muito ruim, entendeu? Então assim, o que é básico que você tem que fazer pra todo mundo é perguntar primeiro e escutar a história, e não achar que você já conhece tudo pela pessoa através dos estereótipos. Só isso.

Homem: É… eu acho que no final a gente vai ter de apoiar a decisão que a mulher quiser tomar mesmo, sabe? E as vezes ela toma essas decisões e a gente pode… [sei lá =

Cris: [Pode discordar, mas é uma decisão dela

Fe: = Pode sugerir, pode apontar “Olha só que interessante, tem uma desigualdade ai, né?! Tudo bem. Você quer continuar desigual? Amiga, tamos junto”

Cris: O que denota, eu acho… encerrando esse assunto assim… Eu acho que é essa cultura do medo, a preocupação final é sobre isso: é sobre quanto o medo te aciona para liberar algo maior, para tomar decisões por você e o quanto essas decisões no final podem prejudicar você mesmo. A gente vive falando disso, né?! Eu acho que diversos temas a gente sempre volta nisso: o poder que você dá para o Estado para ele resolver um problema seu, mas esse problema no futuro, você pode ser o problema. É bem complexo.

Ju: Vamos então para o Trend topics 3

[trilha sonora]

Cris: O Trend topics número 3 é sobre a geração que encontrou sucesso no pedido de demissão. Qual é o fato? Essa semana o texto “A geração que encontrou sucesso no pedido de demissão” de Ruth Manus, no [jornal] Estadão foi muito compartilhado nas redes sociais. O texto falava sobre a ruptura dos nosso pais com o modelo de sucesso da geração anterior, da família sólida, através do divórcio, de como estamos rompendo com o ideal de sucesso baseado em carreira dos nossos pais para buscar mais significado na vida. Percebemos que o sucesso profissional não nos garante a sensação de missão cumprida. A autora arrisca dizer que somos uma geração de hippies urbanos. Foi na semana que também estouraram duas planilhas de denúncia anônima, uma atacando os ambientes de trabalho da agência de publicidade e a outra as redações de jornais e revistas. Já falamos sobre os chefes abusivos aqui e agora queremos propor uma discussão mais abrangente sobre a nossa relação com o trabalho. Vai lá Fê, brilha. Conta pra gente que geração é essa que quer deixar o emprego, tem conta pra pagar, quer romper com a geração passada, tá buscando aí esse norte.

Fe: Não sei, cada hora aparece alguém pra tentar definir melhor essa geração tudo… A impressão que tenho é que a geração atual talvez não teja tendo tanto sucesso quanto a geração anterior. Provavelmente os pais dessa geração atual são pessoas que fizeram faculdade, tiveram grande sucesso em todas as áreas, foram os primeiros da família a fazer faculdade. E a geração atual mesmo estudando, mesmo ralando, não tá conseguindo às vezes o mesmo sucesso que os pais ou mesmo que tivesse o mesmo sucesso talvez não teja tão feliz com isso mesmo e falando “Pow.. é isso mesmo que era pra eu tá querendo?” Acho que antes talvez o pessoal, as gerações anteriores, se baseava mais na necessidade do tipo “Eu preciso fazer isso, eu preciso ganhar dinheiro, eu preciso sustentar todo mundo” e hoje o pessoal não se pega mais tanto nessa coisa da necessidade, talvez tipo “O que eu quero fazer, afinal de contas?”. Difícil dizer. Eu acho que existe sim diferenças bem marcantes pessoais e coletivas dessa geração atual, vai da geração Y com a geração anterior, a geração X…

Cris: Queria só dá um passinho atrás pra gente entender um pouco. Se fala disso o tempo todo, mas não tem muita clareza. De quanto em quanto tempo se divide uma geração? E porque que a gente chama isso de “gerações”?

Fe: Não é muito claro, tá? Eu não sei se vou definir tão bem, mas começou a se falar numa geração a partir da geração dos babys boomers, que seriam aquelas pessoas que nasceram logo depois da segunda guerra mundial. Foi quando um monte de gente morreu, onde a taxa de natalidade foi altíssima e começou a se falar muito desses baby boomers, a galera que nasceu logo depois da guerra. E daí… se falava que esses baby boomers eram os hippies de 1970 e depois.. a partir daí veio o que se chamou de geração X, no intervalo de mais ou menos 20 anos depois. E daí tinha a característica da geração X era ter vindo logo depois dos baby boomers e agora viria essa geração Y ou tem gente que chama de millennials também, que vem depois da geração X.

Ju: Isso é bem discutível até. É bom a gente primeiro falar um pouco sobre “quem eles são?”, “o que eles querem?” e depois a gente desconstrói um pouco porque isso não é 100% aceito: essa divisão em geração é bem questionado também. Uma coisa que acho interessante a gente falar sobre expectativa versus realidade, né?! Por que assim… se a sua expectativa… se você tem uma história que era a realidade da geração X, de que você vai ter que trabalhar muito muito muito e o pote de ouro no final do arco-íris depois de muito esforço é que você vai ter estabilidade, e que isso é sucesso, você tá preparado para passar muito tempo de perrengue e aí quando você consegue estabilidade já é o suficiente. A geração que veio depois só estabilidade não basta. E é uma geração que já foi criada, todo mundo, um ou outro.. tipo… geração psciologizada … então é a geração que os pais já tiveram um outro cuidado em como falar… o que podia e o que não podia… já tiveram acesso a mais coisas… enfim… Aí tem uma expectativa da vida e da vida profissional completamente diferente dos pais, então já achava que só estabilidade não é o suficiente… você tem que ser realizado no que você faz, tem que ter sentido no que você faz, você tem que gostar do que você faz

Cris: Surge a palavra “propósito” né

(Bloco 6) 51’ – 1:00’59”
Ju: Aí assim.. você entende que você colocou a barreira mais alto, onde você deveria chegar. Então se sua expectativa é maior a chance de frustração também é maior, né. Então, isso é uma das coisas que começa a ficar difícil. Pra você ter uma geração inteira de insatisfeitos é o fato de que a expectativa da geração Y é muito maior que era dos [pais. =
Cris: [Eu não sei se tem tanta diferença da geração anterior, mas o foco da geração anterior era o relacionamento pessoal: você tinha que ser feliz no casamento e ter um emprego. Daí a geração dos nossos pais já relativizou muito isso porque o divórcio foi institucionalizado: ‘Não, eu não preciso viver com uma pessoa pra sempre’. Daí essa nova geração ela já começou com essa não-obrigatoriedade de viver ‘felizes para sempre’. Daí ela começou a questionar a carreira: ‘Não, mas peraí… O que que é ser uma pessoa de sucesso? É uma pessoa que chega à diretoria de uma multinacional’. Era assim pros nossos pais. Daí quando a gente chega na nossa geração, a gente fala: ‘Não sei bem se isso é sucesso’. Então quer dizer que ter sucesso é ter dinheiro, ter sucesso = dinheiro. E aí as pessoas começam a questionar se é isso que é sucesso.
Fernando: Até porque não tem dinheiro assim pra todo mundo também não.
Cris: [Risos] [Tá difícil… =
Fernando: [Né? É, porque, assim, eu penso que as gerações anteriores, vai, talvez a geração X ou Baby-boomers, eles tinham um sucesso muito maior dos que os pais deles tinham tido. [Um sucesso =
Cris: [Sucesso ou dinheiro?
Fernando: Talvez dinheiro. Melhor dizer dinheiro. Eles ganharam muito mais dinheiro, foram, sabe, tiveram inúmeras carreiras e tal, e alcançaram muito mais poder econômico que os próprios pais. Havia essa expectativa também, agora, para geração atual, de ter mais sucesso, de ter do mais que os pais. E de repente não tem mais tanto espaço assim pra crescer, não tem mais tanto dinheiro pra ser ganhado. É muita gente. A expectativa não vai ser alcançada.
Ju: Mas não basta só dinheiro. O que o texto está falando, eu acho que é muito reflexo disso, por exemplo, o Google tem um estudo que ele vai buscar frases e palavras específicas em documentos escritos e não existia essa expressão ‘seguir seu sonho’. Não existia. Ela começou a aparecer nos últimos vinte anos. Então é um outro paradigma, entende? Antes, se você tinha carreira… Assim, se você tinha carreira, se você tinha estabilidade, se você tinha dinheiro, já tava OK, atingiu os objetivos, entendeu? E hoje a piração é muito maior: ‘Mas faz sentido o que eu faço?’, ‘Eu sou feliz com os meus colegas?’, ‘Eu sou feliz com o meu chefe?’, ‘Eu estou cada vez aprendendo mais?’, ‘Eu estou me desenvolvendo?’, ‘Eu faço a diferença no mundo sabe?’ E isso não é de agora. Eu lembro que, acho que, o Stanley Kunitz escreveu um texto há muito tempo, eu estava lá na faculdade ainda, falando assim ‘Não existe essa de que você tem que ser feliz no que você faz. Tem um monte de atividade que ninguém vai ser feliz fazendo e elas são úteis pra sociedade’.
Marco Túlio: É, eu fico pensando… Quando eu reflito sobre essa situação eu vejo quase como que a geração seguinte ela é convidada pela geração anterior a não cometer os mesmos erros, a não participar dos mesmos fracassos, a não ter as mesmas frustrações. Então eu acho que o que a gente tá vendo é uma evolução dessa visão de amadurecimento do que que é viver uma vida completa e feliz e assim por diante. Então, a gente teve os Baby-boomers que nasceram logo após a segunda guerra e que tiveram… As famílias, a sociedade, teve uma pressão muito grande, vamos dizer ‘Olha, não vamos repetir o que fizemos’, ‘A vida é difícil mesmo’ e tal. E a gente tem a geração seguinte que já teve um tratamento melhor e a gente tem a geração atual que recebe a geração anterior falando ‘Olha, siga o seu sonho, sabe? Porque eu tive o trabalho corporativo, eu tive um chefe, mas a vida não é só isso. [Tem coisa além’ =.
Cris: [Eu acho…
Marco Túlio: E é um convite que é complicado porque se… Não se frustar, você seguir o seu sonho, você fazer algo que te dê propósito, você seguir a sua paixão é difícil pra caramba.
Cris: [Eu acho que essa… =
Marco Túlio: [É difícil pra caramba.
Cris: Essa fala, tipo ‘meu filho, você merece ser feliz’, muito mais do que atrelar isso a dinheiro, a carreira, a um casamento único… A hora que você dá essa cartinha, eu acho que você abre uma possibilidade que até então não existia. Eu acho que esses pais que passaram nos concursos dos Bancos do Brasil e viveram uma vida inteira nesse mundo corporativo virou [viraram] e falou assim: ‘Não é só isso! Vai lá e faz outra coisa porque… Olha, isso aqui massacra pra caramba!’
Fernando: Porque antigamente eles não tinham tantas opções, né? Imagina, a única opção que tinha era casar e ter filhos, e trabalhar com o que desse pra trabalhar.
Marco Túlio: A própria noção de casamento ela vem se transformando também.
Fernando: Também passou a ter outras opções e cada dia que passa tem novas opções de casamento, e novas opções de relacionamento, e novas opções de trabalho. E quando a gente tem tantas opções não quer dizer que a gente faça escolhas melhores também [não. =
Ju: [Pois é.
Fernando: É difícil pra caramba: ‘Eu tenho um monte de opção. O que que eu quero afinal de contas? Sei lá.’
Ju: É que seu caminho tava traçado e se por um lado isso traz angústia, se você não se conforma com o caminho que tava traçado… Vamos lá! Vamos botar uma margem de erro aí? O caminho traçado funcionava pro que? 80% das pessoas? Tinha 20%, que é gente pra caramba, muito infeliz, massacrado por esse caminho único. Mas a partir do momento que você abre, qualquer caminho é válido, você cria uma angústia talvez o contrário, em 80-20: 80% ficou ansioso, que não sabe mais pra que caminho escolher… Isso é impressionante se você olhar pessoas de 20 a 35 ou 40 anos, você vai ver que elas estão nessa: nunca sabem se estão na carreira certa, se estão fazendo a coisa certa, tipo, o número de vezes que a gente se questiona é, assim, é muito angustiante, entendeu? Porque assim, antigamente você se questionava antes de fazer vestibular, aí você já escolheu e você só ia e hoje a gente está de dois em dois anos reavaliando a vida, carreira, universo, tudo mais.
Fernando: É. [E é aí… =
Ju: [‘Será que sou um fracasso? Será que sou uma farsa? Será que eu atingi todo o meu potencial? Porque se eu sou um floquinho de neve muito especial…’ Porque os nossos pais nos criaram com isso. Você tem mil capacidades, você pode tudo. Isso é legal no quesito potencializar [suas coisas =
Marco Túlio: [Pra construir confiança.
Ju: É. Mas é que também te carrega uma responsabilidade enorme porque não basta mais ser OK, você tem que ser incrível. E aí você fica sempre com essa pergunta: [‘será que eu fiz?’ =
Fernando: [Será que eu estou acrescentando alguma coisa pra esse planeta?
Marco Túlio: E eu fico… E assim, parece que a gente está num período de transição porque todos esses percursos… Você tem percursos mais tradicionais, que é o percurso corporativo, você tem percursos que estão em transição, percursos que não foram desbravados ainda e são meio fracos… E você tem esse período de transição e a gente não sabe muito bem onde a gente se encaixa e é muito difícil pra hoje quem tem muita opção, pegando carona aqui no que o Fernando falou, é muito difícil pra quem tem muita opção viver entre esses mundos do que que é o tradicional, o garantido, a estabilidade, e o que que é seguir o seu sonho e às vezes você embarca numa viagem dessa, achando vai ser, e quando você se vê, tem 40 ou 50 ou sei lá quantos anos… A gente tem depoimentos do pessoal ‘Poxa, to com 30 anos e acho que não conquistei nada’. Ou [‘To com 40 anos =’…
Ju: [Mas é muito… Eu acho… Eu achei excelente esse depoimento porque mostra bem o que a gente está falando. Os nossos pais não tinham expectativa de com 30 anos terem conquistado alguma coisa, sabe? Não.
Marco Túlio: É.
Ju: Você começou a ralar agora. ‘Ah, mas o meu amigo já saiu de casa, nã nã nã …’. Eu acho que também [isso esmaga a gente =
Marco Túlio: [Tem casos de sucessos instantâneos.
Ju: Primeiro que tem casos de sucessos instantâneos, segundo que as redes sociais, a gente já falou isso aqui, elas popularizam o sucesso e escondem a derrota porque ninguém vai ficar falando, então… Teoricamente para você, só chega o seu amigo que foi promovido, só chega a sua amiga que largou tudo e tá fazendo [mochilão na Europa… =
Marco Túlio: [É. Vira uma câmara de ego do sucesso, né?
Ju: E você é um fracasso, entendeu? Você é um fracasso. Só você é um fracasso, entendeu?
Cris: Se você não posta nada é porque nada de bom está acontecendo na sua vida, porque se tivesse, você estava postando.
Marco Túlio: Ninguém posta foto de você cortando a unha lá, na cama de pijama, [Risos da Cris] aquela coisa horrorosa, né?
Ju: Não, falar assim: ‘Gente, eu mudei de empresa, achei que ia ser ótimo e foi horrível. Minha carreira deu um ‘downhill’, pra caramba’.
Fernando: Você vai ter zero likes nesse post.
[Risadas da Ju]
Ju: Né. Ou assim, tipo, ‘Gente, eu estou aqui há cinco anos, todo mundo acha que é incrível, mas eu me acho um impostor, eu não estou aprendendo nada. Eu acho que cada vez eu estou emburrecendo nesse lugar…’
Marco Túlio: E assim…
Ju: Ninguém fala isso.
Marco Túlio: Surgiu aí, né, aqueles documentos do pessoal divulgando bastidores de insatisfação tanto em [agência de publicidade =
Ju: [É, por isso que eu digo…
Marco Túlio: As pessoas não compartilham mesmo os casos de fracasso delas e quando elas vão fazer elas tem que fazer com anonimato porque você vai ter represália, as pessoas não vão curtir e isso ilustra bem o que aconteceu essa semana, né? Nos documentos…
Ju: É, eu acho que as planilhas, elas mostram mais um outro lado que tá assim: de um lado você tem tudo isso que a gente tá falando, de expectativas irreais, e de um outro lado você tem um universo corporativo que, OK, ele nunca foi muito legal, né, mas que tá se aperfeiçoando em algumas crueldades, assim, né? Então assim, tem uma série de coisas que antes passavam despercebidas e hoje já não são, né? Então, por exemplo, se você tinha um universo racista, machista, homofóbico, isso era visto como normal na sociedade, então as pessoas sofriam, mas isso estava dentro do que era esperado, você sabia que você teria que superar isso, entendeu? E hoje já não é mais, então o tipo de sofrimento é diferente. Então um jovem desse chega e fala assim ‘Cara, eu sou pago pra trabalhar, não pra ouvir isso. Eu não tenho que ouvir isso. Na boa.’.
Fernando: Ele sofre muito mais do que as [gerações anteriores =
Ju: [É.
Cris: [É.
Ju: Sim.
(Bloco 7) 1:01’00” – 1:10’59”
Fe: Sofreriam no lugar dele. E hoje até existe aquela tal de Síndrome de Burnout, que é a…seria…foi traduzida acho que como Síndrome do Esgotamento. Mas seria parecida com a depressão, com dor, dor de cabeça, no corpo, ansiedade, tremor, tontura, angústia, sensação de desespero, tudo relacionado ao trabalho. E tem uma galera que tá passando por isso a ponto do esgotamento físico mesmo, a ponto de desmaiar, porque não consegue imaginar, continuar, naquele trabalho do jeito que tá. E a galera tá adoecendo de verdade.

Ju: E pânico?

Cris: É que tem dois choques, né. O choque de tá perseguindo o tal sucesso e tá sentindo que tudo tá acontecendo muito rápido e não a vida dele, então tem essa pressão, e dentro desse ambiente onde você procura sucesso, ser feliz, você se choca com um ambiente que passa por tudo isso que a Ju tava falando, então tem o racismo, tem o machismo, que tem a xenofobia. É um ambiente opressor, mas você não tava ali pra achar um propósito? Pra ser feliz, pra construir algo melhor?

Fe: É, o pessoal ensinou pra gente, né que a gente tinha que, meu, simplesmente amar aquilo que a gente faz. Então poxa, era pra eu tá aqui era pra eu tá amando, né? E não tô! E assim..véi..

Marco Túlio: Mas tem hora também, assim que… Eu acho que tem uma parcela grande aí do pessoal que não tá fazendo isso só pela paixão também, e que acaba entrando em caso de burnout, de pânico. Mas porque tem que fechar a conta no fim do mês.

Ju: É…

Marco Túlio: Né? Tem que pagar e às vezes…Eu acho que pros casos em que o pessoal tá fazendo dinheiro, tá acumulando riqueza material e ainda assim insiste em trabalhos que vão colocar ele em situações de esgotamento, tudo bem, mas tem um pessoal que tá nessa porque não tem saída..

Ju: Sim.

Marco Túlio: Não tem saída! [Tem que..que..ou =

Ju: = A maioria é. A esmagadora maioria.

Marco Túlio: [ou vai ter que pedir dinheiro emprestado, vai criar dívida com agiota, com banco, com qualquer que seja, ou vai ter que suportar. É questão de prioridade,né.

Cris: É que assim, o Brasil é um país tão desigual que enquanto tem um pedaço discutindo se sucesso é carreira, se é isso que eu quero e propósito, tem um pedaço enorme falando ‘Eu tô tentando sobreviver.’ Então assim são duas discussões completamente diferentes.

Ju: Mas eu não acho diferente a partir do momento que, quando a gente tá falando de geração, de expectativa, de realidade e de como isso se choca com a realidade material que você vai encontrar no trabalho, uma pessoa dentro desse contexto pode sair fora e mochilar, a outra pessoa vai ter o burnout, outra pessoa vai ter o pânico. Porque, tipo, o conflito, o choque não é tão diferente, sacou? Então isso que eu acho que, nisso os ambientes se aproximam, sabe, então assim, se tem gente com pânico, antes eu ouvia de pânico e falava: Ai é mulher histérica, sabe. Primeira vez que eu vi pânico em agência, era uma menina que era pequenininha, era, sabe, biotipo pequena tal, tratava ela que nem criança, e ela aguentava as contas mais casca grossa da agência. Ela teve pânico, demitiram ela como fraca, e isso pegou, as pessoas da agência acreditaram que era fraca, depois tiveram que contratar duas, três pessoas pra fazer o trabalho que ela fazia e ninguém ficou naquela cadeira, porque ninguém aguentava o cliente, mas não mudou a história. [ A narrativa =

Marco Túlio: = O rótulo ficou, né?

Ju: [ A narrativa era a mesma, ela foi fraca. Depois disso o cara, o diretor de criação, que era o cara que todo mundo admirava, pânico. Depois disso, o produtor que era puta cara que resolvia todas as coisas que nanana, pânico. Parou o carro na marginal, não conseguia sair do carro, o pai dele teve que, pô, CET não conseguiu tirar ele, ninguém conseguia tirar, o pai teve que ir até a marginal, pra buscar ele, o cara não conseguia entrar no elevador, não conseguia… E assim foram chegando várias pessoas ao meu redor, pessoas de perfil muito diferente tendo um…assim, sintomas que eram inegáveis, não eram mais frescuras entre aspas. Você não podia criar uma narrativa de que eram looser, que não aguentou a pressão, de que esse cara não sabe lidar com o trabalho, e que é filhinho do papai e não sei o quê. Essa narrativa ficou muito frágil, e aí você teve que ver, que assim, tem alguma coisa acontecendo entre o que a gente esperava e o que a gente tá preparado a dar, e o que o ambiente nos pede e a vida que a gente tá levando que a conta não tá batendo. E assim, acho que o número de pânico cresceu assustadoramente.

Fe: E que a gente acaba… Eu acho que a gente acaba escolhendo a solução que é mais tranquila de lidar, né, naquela época acho que era mais tranquilo aceitar que ela era fraca, essa era a solução mais, e mesmo depois também é mais simples acreditar que ela tem uma doença, que é o pânico, ou o burnout, ou a depressão, porque isso é um problema médico, não é um problema da empresa. É muito mais difícil a gente admitir que meu trabalho adoece que o trabalho deixa aquelas pessoas doentes. Que que eu vou fazer, cara? Como é que eu vou fazer um trabalho diferente agora. É competição.

Cris: E eu acho que esse lugar leva pra reflexão do que que é sucesso. E aí sucesso nem sempre é igual a dinheiro, uma pessoa de sucesso não é necessariamente uma pessoa que comprou a casa, que comprou carro, que viaja, que faz uma série de coisas. Alcançar o sucesso a…acredito que a gente tá indo prum lugar que alcançar o sucesso é manter a sua sanidade, a sua saúde.

Marco Túlio: Nossa que triste…Se for isso, né.

Cris: É sério. É que, o que é sucesso?

Marco Túlio: ‘Você é uma pessoa bem sucedida?’ ‘Sim, eu mantenho a minha sanidade.’

[ risos ]

Cris: [ Não, o que eu =

Fe: = Eu me alimento bem.

Cris: [ O que eu tô querendo dizer, é que sucesso é ter uma vida boa. E uma vida boa não é necessariamente ter um monte de dinheiro ou [ cargo de alto executivo =

Ju: = Então…

Fe: [ Tem opções demais de vida boa, cara. Sabe…

Cris: É que todos íamos para sucesso é igual a ‘ Olha, [ ele é uma pessoa =

Fe: = Ganha dinheiro.

Cris: [ de sucesso. Como que eu sei que você é uma pessoa de sucesso? [ Eu já fui na sua casa =

Marco Túlio: = Então, bônus do fim do ano.

Cris: [ e ela é ótima. Porque eu eu já vi o seu carro. [ Porque olha aqui =

Marco Túlio: = É…Troca de carro todo ano.

Cris: [ seu celular. Então eu olho pra você e penso que você é uma pessoa de sucesso.’ Eu não olho pra pessoa que, por exemplo tá servindo no restaurante e falo: Olha, ela é uma pessoa de sucesso, ela tá aqui servindo no restaurante. Então pra gente sucesso é igual ao que você tem de coisas materiais.

Marco Túlio: É, tá ligado às coisas externas, né?

Ju: É, mas o que é interessante de mudança de paradigma é, por exemplo a própria cultura do share, ela é diferente porque você não precisa mais TER as coisas, você não tem que TER um carro e aí você tinha todo o status relacionado a carro, TER a casa, que era o GRANDE sonho da classe média era TER o imóvel. Hoje o interessante é usufruir, você vai alugar o carro, você vai…Não vai ter a casa de praia pra ter toda a despesa e nãnãnã. Você vai viajar, você vai… Não é mais TER as coisas, é poder ter ACESSO a coisas. E aí nisso que fica difícil a gente questionar, quando você tem uma grande parte da população que não tem acesso as coisas, então essa discussão de que ‘Ah sucesso é você ser feliz não é ter dinheiro…’ É muito difícil quando você tem uma grande parcela que não tem acesso às coisas, então ela vai ver as pessoas vivendo, fazendo coisas que ela nunca vai poder porque ela não tem grana. Então assim essa tentação de você se submeter e de fazer o que precisa ser feito pra que você possa ter acesso a coisas eu acho que essa pressão é muito difícil de você quebrar, e essa discussão é muito de você ter pra quem não tem acesso, não tem acesso algum. Depois que você tem acesso a um determinado nível, você escolher não se enlouquecer mais pra ter mais coisa, tem até um cálculo feito por universidade de Harvard que tipo, dinheiro até x mil faz diferença, [ faz diferença =

Marco Túlio: = Depois não faz mais.

Ju: [ Depois não faz mais.

Marco Túlio: Acho que é 110 mil dólares, Ju.

Ju: É. E aí eu acho que assim, eu acho que a nossa discussão é tipo, ah pra galera que tá acima desse 110, eles vão ter a discussão que, cara não vale o stress, porque o stress que eu tenho pra ter grana a mais, eu tô gastando em remédio, eu tô gastando em mil outras coisas que não tão me revertendo em felicidade. Então essa é uma discussão. A outra discussão é pra quem não chegou nesse 110 né cara..aí…

Cris: É…a… A conversa é uma coisa é sobreviver e a outra coisa é viver. A gente tem uma parcela enorme tentando sobreviver. Sobreviver é ter o acesso.

Fe: É a necessidade e a vontade, né?

Cris: Exato. Primeiro você sobrevive, só depois que você sobrevive que você começa a viver. Quando você não… Ainda tá lutando pela sobrevivência, você não tem opções, ou elas são MUITO, muito restritas.

Marco Túlio: Essa necessidade, vontade só emerge depois que você tem a questão da sobrevivência resolvida, é?

Cris: [ Exato. =

Marco Túlio: = E é isso que a Juliana tava falando.

Cris: = O básico, o básico foi resolvido.=

Ju: = E aí a gente volta

Ju: [ Lá na base da pirâmide =

Ju: [ E a gente volta pra discussão. Tá. Então é isso que a gente tá falando, não é diferente pra esses dois grupos a discussão de que: na geração anterior se o seu pai tivesse que tá num trabalho que pra ele não fazia sentido nãnãnãnã. Ele vendeu oito horas da vida dele, prum trabalho que ele não gosta, não curte, não cresce, não tem o chefe que ele gosta, não tem pessoas que ele gosta, ok. São oito horas, mas ele conseguiu o acesso a essas coisas aos 110 lá, ao básico que ele precisava, ou metade disso, 80% disso, 70% disso, mas ele conseguiu acesso com garantia, isso já era sucesso pra ele. Ele já tava feliz. A expectativa dele era essa, ele cumpriu a expectativa, ele tava feliz. O que a gente tá falando é independente de que em grupo você tá, a sua expectativa hoje é diferente. As pessoas não tão topando nem pra fazer o básico, passar pelas coisas que os nossos pais passaram. A questão é ‘Ah mas eu não posso pedir demissão.’ ‘Ok você não pede demissão, mas você é infeliz.’ É uma geração que tá infeliz por coisas que a geração anterior não ficava infeliz, é isso que a gente tá falando. Tá mais difícil. [ É difícil ser eu =

Fe: = É porque a comparação. A comparação é outra..

Ju: [ É..

Fe: Eu acho que as gerações anteriores talvez ainda tenham vivido um pouco sobre a sombra da guerra, sobre alguma coisa que era muito pior, né. Então praticamente ou qualquer outra coisa tava beleza, tava bacana, sabe, tô bem, tô estável, tenho onde morar, tá bom! A gente não tem mais tanta essa comparação com a guerra, com uma coisa tão trágica. E daí o que parecia normal, hoje é muito ruim.

Ju: O Louis CK ele tem um negócio muito engraçado, um monólogo dele que é muito engraçado, sobre como a gente se acostuma rápido com as coisas que a gente conquista e elas passam a ser default passam a ser básicas e banalizadas. Então ele fala assim: Pô, antes você demorava seis meses pra cruzar o Atlântico, sabe. Agora você vai de avião, deitaaado, com conforto e nãnãnãnã e você reclama que atrasou. Você tá VOANDO, você está voando e você tá reclamando que demorou e tal. Então assim, eu acho que esse escalonamento de expectativa ele é natural e ele acontece sempre. E eu acho que hoje a gente é vítima bastante disso de uma expectativa principalmente agora que a gente tá falando de carreira, de trabalho. E uma expectativa de carreira que tá matando a nossa geração. Todo mundo achou que ia ser CEO, todo mundo… Assim, eu lembro… Gente, eu fiz administração, era RE-DÍCULO, RE-DÍCULO, todos os meus colegas achavam que iam fazer um milhão antes dos trinta, todos! Nenhum fez, nenhum fez, entendeu? E aí todos eles são fracassados? Todos são loosers? Então, você entende o que é colocar um modelo que você não vai chegar, gente. Não vai chegar. Então sei lá qual o seu. Não é um milhão, ainda bem, que você tem mais sanidade que meus colegas. Mas qualquer um de nós colocou expectativa de um..de uma coisa que não era. Então assim, você vai ter que gramar muito, pra conseguir subir, você vai ter altos e baixos, você vai fazer escolhas ruins e o importante é que você esteja sempre nunca deixe de trabalhar, dá o seu melhor, sempre aprender,sempre crescer e aí você vai ter atalhos e você vai ter momentos de…Acho que essa expectativa de lidar com o fracasso, de lidar com o fato de que às vezes você vai dar murro em ponta de faca, e às vezes parece que você não tá indo, isso que a gente tem pouco tolerância.
(Bloco 8) 1:11’00” – 1:22’59”
Cris: É… Mas eu acho que tem uma… uma condição também que é colocar uma expectativa gigantesca em cima sê feliz só do trabalho. Eu acho que existem outras fontes de felicidade na vida, que não seja só o trabalho e só o namorado, ou o marido. Existem outras fontes de felicidade, pode ser praticar um esporte, uma leitura, um Mamilos! [Você tem que ter outra… =
Ju: [Se realizar em outras áreas.]
Cris: = Você tem que se realizar em outras coisas, senão você joga uma expectativa tão gigantesca em cima do trabalho… =
Ju: [Concordo]
Cris: = que é muito pro trabalho. =
Fe: [Isso eu acho, eu acho…

Cris: = Entende? Você não é o seu trabalho.
Ju: Sim!
Fe: Eu bacana essa mudança de paradigma, da gente não precisar necessariamente AMAR aquilo que a gente faz. A gente faz porque tem que fazer. E a gente pode ser feliz fora de lá. Eu, eu acho bacana essa mudança um pouco.

Ju: Mas isso não é. Isso é o que era os nossos pais. A nossa geração quer tudo do trabalho. Trabalho não é seu Deus, sabe? Você matou Deus, você matou sua família, sabe? Não põe o trabalho nesse altar, entendeu? Trabalho não vai te dar tudo. Eu acho isso importantíssimo e eu só consegui ver isso com filho.
Cris: É uma over expectativa. Eu acho que o filho muda tudo mesmo, muda mesmo. E eu acho, e tem muito essa promessa do chegar lá. [Como chegar lá, como você faz…=
Ju: [Era isso, isso!
Cris: = Quando você tem a oportunidade porque aconteceu e você chegou, você percebe que o lá não é tão lá assim!
Ju: É!
Cris: E aí, você entende que você precisa ter outras fontes de felicidade.
Ju: É, e independente, tipo, as coisas tomam outra dimensão, entendeu? Eu tinha isso, assim, minha pira não era ter um milhão, mas minha pira era que eu tinha.. eu nem sabia onde era que eu tinha que chegar na carreira, mas eu tinha que chegar em algum lugar e esse lugar era muito incrível. Aí depois que eu tive filho mudou completamente. Meu trabalho era o lugar onde eu sustentava meu filho e deu, entendeu? Ele não tinha que ser… eu não ia me provar, a minha definição como ser humano, minha missão na terra não era meu trabalho. [Minha missão na terra era criar aquele ser humano, entendeu?…=
Cris: [Tem que…
Ju: = Mudou completamente o peso. E as vezes isso não quer dizer que você vai ser um pior profissional, às vezes até o oposto. Porque você vai ser, ter paciência, você vai ter mais foco, você vai ter um monte de outros skills, um outro olhar, entendeu? Mas deixa de ter importância, relevância, definidora que o trabalho tem antes de você ter filho.
Cris: Pessoas com propósito centrado na carreira, eu acredito que se frustram porque é até injusto, porque ela cobra mais do que o trabalho pode dar. Então acho que ter outros olhares, te ajuda a ter uma carreira melhor também. E uma vida mais feliz dentro do trabalho. Eu acho que essa frase ficou muito forte pra mim depois que eu comecei a questionar isso, foi uma dissociação muito dolorosa: Você não é o seu trabalho!!
Fe: [É o difícil é que acho que as empresas querem os funcionários que vivem o trabalho. =
Ju: Sim!
Fe: = E daí inclusive remunerando melhor as pessoas que vivem o trabalho.
Cris: Que não tem vida, né?
Fe: Que não tem vida, né? É aquela pessoa que fala assim: e aí, qual que é seu maior defeito? “ahhh meu maior defeito é que eu não consigo separar o meu trabalho da minha vida pessoal”. Pronto contratada, é você mesmo que eu quero amigão!
Cris: [Risos] É bem por ai mesmo. Eu acho que é complexo e um questionamento muito novo. Primeiro um questionamento de relacionamentos pessoais, e agora um questionamento sobre o que que é sucesso? Redefinir sucesso e definir o que que é um carreira boa, e o que que é uma vida boa? É uma boa pauta, correto?
Fe: Acho que é!

Cris: Vamo nessa então? Vamos pro Farol Aceso?
Ju: Vamos!
[Sobe Trilha sonora]

sonhei
que te puxei pra fora da janela do computador

[desce Trilha sonora]

Cris: Vamos então para o Farol Aceso? Vamos começar com o Fe? Fe diz ai, que que tem de bom pra gente?
Fe: Pessoal o que eu vou indicar hoje é um filme que tem no Netflix que chama “About Time”. Eu acredito que o nome era… em português era “Questão de Tempo”. É… um filme com a Rachel McAdams. E é um filme simplesmente bonito demais! Eu… eu acho que eu assisti quando meu filho tava recém-nascido e ele toca um pouco na questão da paternidade. [E eu chorei, assim de convulsionar e de falar: Meu Deus do céu como é lindo esse filme!!! =

Cris: [Risos] = É mesmo!
Fe: = Assistam, vocês vão gostar de verdade!

Cris: Boa!
Ju: Eu também chorei.
Cris: Marco Tulio…
Marco Túlio: Eu não gosto de vê filme pra ficar emocionado, gente, que isso? Que filme…
Cris: Mas é bom, é super good vibe o filme!
Fe: Mas é um filme que eu… eu acho que nunca tinha acontecido de eu chorar tanto de felicidade…

Marco Túlio: Ahhhh…
Fe: Isso nunca tinha…

Marco Túlio: De felicidade?
Fe: É, de falar: Cara como é lindo isso!

Marco Túlio: Ahh ta!
Fe: É diferente mesmo. Não… não chorei de tristeza porque uma pessoa morreu.

Ju: É triste, mas não é doído.
Cris: Assistam!

Ju: Sensível!
Cris: Marco Túlio, conta! O que você tem de bom pra indicar?
Marco Túlio: Nesse fim de semana eu vi uma peça muito legal chamada “Os Arqueólogos”, tá no Centro Cultural São Paulo. É uma peça que brinca com essa coisa da gente banalizar tudo, né? Da gente colocar empolgação e coisas fantásticas em situações que não tem menor sentido de ser assim. E aí a peça toda contada sobre o ponto de vista de pessoas que tão num futuro muuuuuito, muito distante. E essas pessoas são consideradas arqueólogos desse passado que a gente vive hoje! Então elas ficam observando situações corriqueiras do cotidiano, e elas ficam narrando essas situações com pessoas que estão olhando pro nosso presente como arqueólogos do futuro. Então, é uma peça sensacional. É, os atores são muito bons! Apenas 10 reais, lá no Centro Cultural São Paulo. Vale muito a pena, só fica até semana que vem, então, corram!
Cris: Boa. Ju, que que cê manda de bom?
Ju: Primeiro tem um filho novo na família que é “Naruhodo!”. É um Podcast super curtinho, gostoso de ouvir, de curiosidade. Que que significa isso? Sabe quando a gente descobre, ou entende alguma coisa e fala: Ahhhhh entendi, saquei! Isso é Naruhodo, uma expressão japonesa usada nesse momento. Então a proposta do Podcast é justamente essa: trazer resposta pra dúvida do cotidiano, as vezes do não tão cotidiano assim. Ciência, sabedoria popular, curiosidade e desafios. Vale super a pena, com o super Ken Fujioka. Ouçam! Prestigiem! E outra coisa, eu assisti o documentário sobre a Cássia Eller no fim de semana. E assim, eu tenho uma mania muito estranha, que é de assistir documentário, biográfico, que obviamente cê já sabe o final, como se fosse ficção, torcendo pra que o final seja diferente, sabe? [Sou muito estúpida… =
[Risos Ju e Cris]
Ju: = E aí eu chorei muitooooo cara, fiquei muito arrasada. E assim, o documentário é muito legal de mostrar, dar mais camadas pra ela, de… de assim, de mostrar ela super é…. introvertida, né? Com dificuldade de lidar com pessoas, com público, ao mesmo tempo completamente diferente disso no palco, uma super presença de palco, e tal. E assim foi muito gostoso, eu já, eu gosto bastante do Nando Reis e escutava ela por conta dele. Mas é assim, fiquei muito mais fã dela, não conhecia tanto época mais rock and roll dela. Então assim, ela é muito maior que a voz que eu conhecia, atitude, as barreiras que ela quebrou, enfim. E assim, uma lástima porque ela tava começando a carreira, assim, decolando, tinha muita coisa que ela poderia fazer e… e ela ainda ia quebrar muitos tabus e experimenta muita coisa nova se tivesse tido tempo. Então uma lástima! Mas vale a pena assistir o documentário! E você Cris?
Cris: Eu vou indicar um documentário que eu já assisti há algum tempo, mas eu acho que a época boa pra assistir ele agora chamado “Best of Enemies”. Que acontece ali no ano de 68, Democratas e Republicanos iam escolher os candidatos à presidente e a rede “Abc”, ela tava com uma audiência muito pífia. E não tinha grana pra fazer uma mega cobertura. E eles inovaram de um jeito muito interessante, porque eles promoveram debates, cíclicos, ele todos os dia tinha uma série de debates. Mas quem que ia fazer isso? Aí eles trouxeram dois intelectuais, cada um defendendo o seu ponto de vista. De um lado tem William Buckley e do outro o Gore Vidal, e eles são muito afiados. E ver duas pessoas tão inteligentes debatendo, discutindo ponto de vista delas de dois lado tão diferentes entre Republicanos e Democratas, primeiro que explodiu a audiência, né? A galera ficava louca esperando pra começar, porque ambos eram agressivos, ambos muito inteligentes, muito afiados, é quase um repente, saca? Tem horas que cê tem a sensação que tá rolando um repente, de tão entrosado que é o papo, de tanta conexão que eles têm. E o tema é muito quente. Então tem um hora… tem alguns momentos que você fala assim: gente esses caras vão sair na mão! Porque chega num nível do debate, e o documentário começa muitos anos depois desse fato, mostra cada um deles, a vida, tananá… e começa retroceder até chegar no ponto dos debates em si. Toda a repercussão que aconteceu em cima daquilo. E tem um desenrolar interessante, até um pouco, pra mim foi bastante surpreendente de ver até que ponto eles chegaram nisso. Então eu recomendo, porque tem ali uma viradinha bem interessante… =
Marco Túlio: [Como que chama mesmo?
Cris: = “Best of Enemies”. =
Marco Túlio: [Tá no Netflix?
Cris: = É melhores inimigos. Sabe? =
Marco Túlio: [Tá no Netflix.
Cris: = Tá no Netflix! E… =
Marco Túlio: [Curti, vou ver!]
Cris: = Nessa época de debate, sobre política, quando a gente para pra assistir. O que que eu acho extremamente vigoroso nesse documentário, eles não se atacam pessoalmente, pelo menos não na grande parte do tempo. Mas as ideias uns dos outros, com dados, com bons argumentos. É muitooo muito bom. Aí quando você assiste um debate de qualidade, onde as pessoas respondem efetivamente ao ponto que é colocado, e não desvia, vai pra outro, sabe? Outro assunto. Quando elas são… que eu acho de honestidade no debate, né? Realmente o foco e aquilo, então vamos debater sobre aquilo e não desviar o foco. E você compara com outros debates que você vê, aconteceu o primeiro essa semana dos candidatos a prefeitura, eu acho que te dá um bom embasamento assim, do que que você deve minimamente buscar em alguém que no futuro vai te representar. Então é um momento muito bom pra assistir esse documentário, tem no Netflix, corram atrás, vale a pena! É isso? Temos um programa?
Ju: Temos!
Cris: Fica a gostosa sensação de mais um Mamilos completo! Brigada gente!
Ju: Beijo!
Fe: Valeu!

Marco Túlio:

Valeu!
[Trilha sonora]

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