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Nova versão de “A Bela e a Fera” tem menos fantasia e mais nostalgia

Filme aproveita o culto ao redor da animação dos estúdios Disney, mas não encanta na mesma medida

por Virgílio Souza

Desde sua concepção, a nova versão de “A Bela e a Fera” conta com ingredientes mais valiosos do que qualquer outra atualização das animações criadas pela Disney. Vinte e cinco anos após a estreia do original nos cinemas, o culto ao redor do filme se mantém firme e espalha um legado impressionante para um período relativamente curto. A protagonista é uma das princesas favoritas da companhia, e o musical derivado do longa, apresentado inicialmente na Broadway e depois em diversos países mundo afora, segue como um grande sucesso de público.

Esses dois aspectos, combinados, já são suficientes para assegurar o faturamento nas bilheterias, seguindo a tendência recente (e positiva, em termos de rendimentos) de refilmar clássicos infantis com o auxílio da tecnologia atual. Para o estúdio, porém, é preciso algo mais. Entram em cena, então, Emma Watson e Bill Condon: a atriz ícone da geração que cresceu embalada pelas faixas da premiada trilha sonora e o cineasta envolvido em alguns dos musicais mais celebrados das últimas décadas.

O diretor Bill Condon, no centro

Nascida pouco antes da estreia da animação de 1992, a intérprete de Bela faz o possível para traduzir em ações suas características mais marcantes. O roteiro de Evan Spiliotopoulos e Stephen Chbosky contribui na empreitada e oferece a Watson um número maior de elementos para construir a heroína, que por sua vez se beneficia das novas possibilidades de identificação com o espectador. Nessa versão, ela possui habilidades que ultrapassam a literatura, e sua relação com o pai, Maurice, (Kevin Kline), é em ampla medida pautada pela ausência da mãe.

Enquanto caminha pelo vilarejo sob o julgamento dos demais moradores, seu isolamento é visível, e a atriz transmite essa ideia com olhares que não encontram par na multidão e uma voz que, se não tão potente quanto a de Paige O’Hara, dubladora da personagem na animação, consegue soar ao mesmo tempo determinada e melancólica. Ainda que as canções permaneçam iguais e os principais passos da trama original sejam seguidos à risca, nota-se que ela realmente existe como uma personagem com capacidade de agência, não apenas como tradução em carne e osso do desenho animado.

“A Bela e a Fera” encontra sua maior força quando é tratado como um musical propriamente dito

Condon segue uma lógica semelhante. Roteirista de “Chicago” e diretor de “Dreamgirls: Em Busca de um Sonho”, ele parte do que existe de mais básico na história e molda o entorno de acordo com sua proposta. Certos símbolos incorporam o caráter fantástico do conto de fadas, aproximam a adaptação do encanto do original e, em grande medida, sustentam os números musicais. A sequência da valsa, por exemplo, parece elaborada tendo em mente o icônico vestido amarelo de Bela, que ganha brilho como num truque de mágica enquanto a câmera gira ao seu redor.

Aqui e ali, a direção encontra momentos que saltam aos olhos. Grande parte deles chama a atenção por remeter diretamente à animação: o último ataque dos lobos, a conversa do casal no jardim após uma nevasca e a tomada do castelo pelo povoado são apenas três de dezenas de exemplos. Funcionam, sobretudo, porque não demonstram constrangimento quando apelam para a nostalgia nem se esquivam da responsabilidade de oferecer um visual renovado — e esse se confirma, filme após filme, como o ponto central da proposta da Disney.

Infelizmente, a versão computadorizada da Fera não dá conta de tornar real o que existe em discurso e sentimento com relação a Bela

“A Bela e a Fera” encontra sua maior força quando é tratado como um musical propriamente dito. O coro de vozes que se sobrepõem para cantar letras familiares dita o ritmo, e Condon valoriza as performances observando os rostos de perto mesmo quando chega a faltar fôlego. Sua experiência no gênero é útil para tornar os números dinâmicos, explorando tanto a movimentação fluida da câmera quanto o deslocamento constante dos atores pelos espaços. Além disso, o diretor encontra charme e humor em detalhes que outros perderiam pelo caminho. A forma como LeFou (Josh Gad) pontua cada cena envolvendo Gaston (Luke Evans), por exemplo, mostra sua habilidade para estabelecer dinâmicas entre os personagens com base em breves momentos nos intervalos das músicas.

Especialmente no primeiro terço do longa, os atores variam com tranquilidade entre a fala e a canção. Quando a ação passa a se concentrar no castelo, porém, as coisas se complicam. A transição entre a leveza da vida no vilarejo e a atmosfera sombria posterior ao encontro com o monstro ocorre de maneira brusca, fazendo a narrativa oscilar. A fantasia ainda está ali, nos objetos falantes e na aparência dos cômodos, mas agora o relacionamento do casal e o inevitável conflito final, ambos centrais para a resolução da trama, demandam algo que o filme não é capaz de entregar.

Do início ao fim, a animação original se mostra um misto de recurso importante e sombra incômoda

A paixão que se desenvolve entre eles depende de manifestações concretas. Assim, ganham importância a forma como a garota e o príncipe se aproximam e a linguagem corporal de cada um deles diante do outro. Infelizmente, a versão computadorizada da Fera (Dan Stevens), apesar de sua capacidade de passar do ameaçador ao sensível, do monstruoso ao humano, não dá conta de tornar real o que existe em discurso e sentimento com relação a Bela. A impressão de estar diante de uma versão do personagem, nunca dele mesmo, sempre o acompanha em cena.

Problema similar aparece quando a criatura e o vilão se enfrentam. Embora dedique uma significativa porção de tempo para cultivar o romance no interior e nas imediações do castelo, Condon enfrenta dificuldades para organizar o espaço de modo que a luta entre homem e besta seja visualmente coerente ou sequer interessante. Longe de demonstrar o domínio visto nas sequências musicais, ele filma a ação de maneira genérica, sem muita inspiração, e só recupera o controle quando pode novamente recorrer à nostalgia.

Do início ao fim, a animação original se mostra um misto de recurso importante e sombra incômoda. Enxergar a nova produção separadamente é um exercício complicado, muito porque os próprios realizadores não renunciam a essa referência direta; ao contrário, correm atrás dela o tempo todo. No fim das contas, porém, o que incomoda é a sensação de que ser como as demais — um produto eficiente, mas incompleto — é uma escolha consciente. Não há como se esquivar: “A Bela e a Fera” poderia ser muito mais do que um sinal de que a nostalgia basta.

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