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Novo “Halloween” busca renovar estruturas de clássico atemporal

Sequência resgata horror do original de 1978 com narrativa atenta às tendências atuais

por Pedro Strazza

Enquanto franquia, “Halloween” se faz como o caso curioso da obra em busca da própria fórmula. Junto do “O Massacre da Serra Elétrica” um dos principais filmes a popularizar o então nascente gênero do slasher nos Estados Unidos na década de 70, o longa de John Carpenter firmou uma sequência de oito continuações (mais um remake de Rob Zombie com seu próprio segundo capítulo) que tentaram e falharam a seu jeito recapturar a tal da “magia” que cercou o original, uma obra de força inegável por trás da série de assassinatos promovida pelo psicopata Michael Myers. As razões para as seguidas derrocadas são várias, tão diversas quanto as teorias formuladas por cada uma das produções para reviver e criar vida longa a este espírito amaldiçoado.

É um desafio que, embora suavizado e embalado pelo clima de nostalgia do atual cenário hollywoodiano, também assombra o “Halloween” de 2018, sequência produzida pela Blumhouse de Jason Blum que descarta conscientemente todo o processo histórico confuso e empilhado da série para recomeçar do zero suas estruturas enquanto franquia. Mesmo feita apenas para os fins práticos de simplificar o processo criativo da produção e potencializar as chances de lucro do projeto, esta é uma decisão que não deixa de revelar parte do procedimento por trás do longa comandado por David Gordon Green, que nunca esconde suas influências e reverência ao filme de Carpenter.

David Gordon Green (à direita) com Jamie Lee Curtis no set

Esta simplicidade, no caso, deriva do ato frontal do filme de tentar trazer o sentimento por trás da história de 1978 para o presente sem precisar reconta-la, numa metodologia que renova as estruturas aos novos tempos enquanto mantém intocado todos os seus principais alicerces. Da vinheta que reconstrói uma simbólica abóbora despedaçada à reconstituição literal de cenas, diálogos e momentos do episódio “anterior” em um novo contexto, a produção recorre a “Halloween” não no intuito de ressignificá-lo ou de remexer em suas entranhas, mas sim pelo viés de proporcionar ao público de hoje a mesma sensação de assombro que tomou a audiência do passado. É acima de tudo um exercício de reconstituição e preservação, ditado por um legado de aparências e tomado como sacrossanto pelos realizadores – cuja orientação em si não deixa de ser muito similar aos esforços do segundo e terceiro “Halloween” “originais”, não por acaso as únicas continuações dentro do longo processo histórico da série a serem produzidas pelo seu criador.

Por mais que esta ideia a princípio soe um tanto desgastada perante a atual avalanche de retornos e revivals ditados pelo conceito do respeito ao passado, na prática esta abordagem desemboca num longa pautado por anacronismos narrativos que soa um tanto inédito em seu modo de operação. Ainda que Gordon Green e sua equipe não queiram desvirtuar os caminhos do original (esta continuação é provavelmente a que mais relembra a conotação de Myers como um “bicho-papão”, por exemplo), o novo “Halloween” se faz de trucagens e joguetes narrativos elaborados muito depois do filme de Carpenter, uma ação por si só capaz de tirar o projeto da mera condição de emulador e individualizá-lo perante seus signos lúdicos.

E o  grande truque, no fundo, é justo o prazer com o qual estes signos são executados pela produção.

Mesmo que não queira desvirtuar a estrutura original, Gordon Green só usa de joguetes narrativos atuais

Não é à toa, então, que a continuação de Gordon Green soe como algo tão único e ao mesmo tempo tão conhecido, desempenhando este jogo de verossimilhanças e estranhamento dentro de uma dinâmica de entretenimento assumida que sozinha nunca perde o gás. Por meio de atos relativamente simples, como a substituição da câmera subjetiva do original pelo falso plano-sequência ou a atualização tecnológica um tanto cafona da trilha sonora de sintetizadores e guitarras produzida por Carpenter ao lado de Daniel A. Davies e do filho Cody, o longa percorre cada um de seus sets de horror sob a égide de um olhar retrógrado e deveras simples sobre o que o gênero deveria ser, mas sua execução bebe de todo tipo de fonte contemporânea capaz de dar sustentação ao seu propósito de assustar – e, melhor, sente um prazer imenso de aplicar estas técnicas. Para compreeender o relativo nível de sucesso do projeto, basta observar a reação dividida da crítica estrangeira a uma produção regida no geral pelo jump scare, um mecanismo classificado tantas vezes como “ultrapassado” e “clichê” a ponto de ser considerado de mal gosto e que aqui reina como um aposentado estadista de volta ao trono de direito.

Mas enquanto nesta proposta de horror o novo “Halloween” se mostra bastante decidido sobre o tipo de filme que quer fazer, fora deste escopo se percebe um pouco das limitações narrativas e mesmo temáticas da produção, em especial no eixo dramático o qual é hoje uma estruturação tão importante nas discussões do terror atual e da baboseira do conceito do “pós-horror” que bem ou mal envolve os rumos do gênero. Mesmo que o esperado enfrentamento entre Myers e Laurie Strode (encarnada por Jamie Lee Curtis aqui sob o perfil mais Sarah Connor possível) resulte num clímax parrudo, servindo de ápice a toda a estrutura lúdica de homenagem e atualização “pecaminosa” por trás da direção de Gordon Green, a ausência de um temática centralizada e maior ao mero dispositivo de entretenimento esvazia de sentido a construção dramática que o diretor ora ou outra imprime à trama em busca de um maior fortalecimento das bases.

É uma medida que relativiza ou mesmo banaliza os núcleos dramáticos em curso, seja o de mãe e filha, avó e neta ou até vítima e psicopata, enquanto o jogo de gato e rato se torna uma prioridade de princípio quase excludente perante o resto. Chega a ser um tanto engraçado, por exemplo, como a suposta “emenda” da relação de Laurie com a filha Karen (Judy Greer) nunca chega a ganhar o fôlego de uma batida emocional mais forte, mesmo quando ancorada em valores como do empoderamento feminino e do horror por trás do trauma da vítima.

Fora do escopo do horror se percebe as limitações narrativas e mesmo temáticas da produção

Estas debilidades dos núcleos dramáticos não deixam de ser uma repetição de erros de outros emuladores de Carpenter, algo que em si é uma consequência um tanto irônica para um “Halloween” tão disposto a abandonar o histórico e se manter fiel “às origens”. No fundo, Gordon Green e sua equipe estão percorrendo o exato mesmo caminho do “Halloween II” de Rick Rosenthal, esta também uma sequência do original que buscava beber do sucesso do filme de Carpenter à partir da repetição de sua proposta de terror e também não sabia muito bem como lidar com o resto – o que inclui, claro, a revelação de Strode como irmã de Michael Myers, um conceito felizmente abandonado no apagamento de trajetórias da nova continuação.

A diferença vital entre o segundo capítulo de 82 e este “Halloween”, porém, está mesmo na distância temporal com o original. Se o filme de Rosenthal foi lançado três anos depois (e portanto muito próximo) de seu antecessor, tendo que assumir os pecados e pesos da continuidade oriundos de sua posição cronológica, Green não só conta com a independência criativa oferecida por quarenta anos de história do original mas também com a consolidação desta longevidade de seu monstro nas telonas, agora uma criatura condenada a retornar ao circuito periodicamente. É uma questão de historicismo aproveitada apenas para fortalecer a predisposição do longa ao gesto lúdico, é verdade, mas cuja aplicação passa longe da reiteração do episódico e perto da revelação de uma figura mitológica, uma percepção que talvez seja a mais sagaz deste novo capítulo na comparação com todas as outras sequências.

nota do crítico

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